Entrevista
Como inovar e rentabilizar o mercado imobiliário para além da venda e locação
Criar uma rede de serviços de atendimento aos moradores de prédios MRV a ponto do consumo compartilhado reduzir ou até mesmo eliminar o valor de aluguel é uma das metas mais ambiciosas da startup Luggo, braço de inovação da construtora. O modelo que promove a entrada de startups para operar sistemas de compartilhamento de carros, bicicletas, lavanderias, supermercados e até chopeiras dentro dos condomínios estimula o consumo de produtos e serviços localmente, o que pode gerar, em breve, abatimentos nas taxas condominiais.
Mas esta é apenas uma forma de enxergar o futuro do mercado imobiliário, empurrando construtoras e incorporadoras não só para a construção e venda, como também para a gestão dos empreendimentos. A Luggo, que nasceu como uma plataforma de locação online, também foi pioneira na entrada de fundos imobiliários residenciais no Brasil e oferece modalidades de compras que incluem até a aquisição de uma fração do apartamento onde o próprio cliente mora a título de investimento.
"Os clientes de moradia estão consumindo o formato de 'viver', um modelo diferente da locação clássica. Nosso papel como plataforma é entender que o cliente pode querer alugar agora, morar em apartamento próprio daqui dois anos, migrar para um imóvel de uma faixa de renda superior em cinco, e na aposentadoria querer voltar para a locação", explica o gestor executivo da startup, Rodrigo Lufty. "A Luggo faz a ponte entre esses produtos e garante que migração deste cliente fique dentro do nosso ecossistema, atendendo o momento de vida dele", arremata.
Lufty foi o entrevistado do mês do Canal Construções Inteligentes, um espaço patrocinado pelo Sebrae/PR dentro do GazzConecta, para discutir o mercado de construtechs e proptechs. O vídeo, que foi transmitido ao vivo pelo Instagram do GazzConecta, pode ser conferido na íntegra:
Para o gestor, o conceito de viver e bem-estar dos clientes é fundamental para inovar dentro do mercado imobiliário e será o futuro do segmento.
"Alugar o apartamento de forma rápida, online e transparente pode ser feito em cinco minutos na nossa plataforma. Mas o tempo que o cliente vai passar vivendo no empreendimento, que pode durar meses ou anos interagindo com seu produto, é o que define a experiência. E como podemos revolucionar isto? Atendendo o viver. Neste ponto, passamos a nos questionar se era necessário os prédios funcionarem de determinados jeitos e, mais do que isso, até se o cliente de fato precisava pagar aluguel", explica Lufty.
Essas revoluções profundas na forma de enxergar a moradia também devem impactar inclusive o setor de construção civil, que precisa estar atento as novidades do mercado e adaptar projetos durante o andamento deles.
"O desafio é entender o que o cliente precisa mesmo quando ele próprio não sabe. Por isso estamos sempre atrás da engenharia, pedindo adaptações. Um bom exemplo são as pistas de pouso para drones. Alguns projetos já estão deixando espaço para isso, lockers nas portarias, etc. Mas, mais do que ter essas tecnologias, nós priorizamos ter alguém para ajudar as pessoas a usá-las", conta.
Desafios
Para operar nessa nova economia, no entanto, não basta apenas boa vontade. É preciso preparação e um modelo de negócios sólido. É o que aconselha Lufty. Para o gestor, um dos maiores desafios enfrentados pela startup é a sincronia de serviços prestados em cada condomínio.
"Hoje a internet dos apartamentos é nativa do prédio, o morador só recebe o seu login e senha e a maioria dos serviços é operado desta forma. Então você imagina, se cair a internet nós temos um problema em conjunto para ser superado", explica. "A MRV não era especialista em gerir e sim em construir e vender. Por isso esses são aprendizados constantes e diários", arremata.
Outro conselho dado pelo executivo para quem pretende entrar no ecossistema de serviços e desenvolver negócios na área de gestão é entender que a venda, locação e construção são ramos paralelos a estes, que caminham em conjunto, mas exigem operações completamente diferentes.
"É preciso estar disposto a dar um passo muito grande. Uma conversa é você entregar as chaves. Outra é você entregar uma chave e se responsabilizar pelo cliente, a partir daquele momento. Então é preciso estar preparado para resolver o portão do condomínio que não está funcionando, a geladeira que pifou e, sobretudo, estar sempre se certificando de que a experiência de consumo dentro do empreendimento está adequada e satisfatória nos mínimos detalhes".
Prestes a completar um ano de atuação, a Luggo já tem planos de atuação internacional, estabelecendo parcerias com empresas norte-americanas especializadas em fundos imobiliários. A primeira oferta pública de cotas do Luggo Fundo de Investimento Imobiliário, realizada em dezembro do ano passado, atingiu a oferta máxima de captação, totalizando R$ 90 milhões. Hoje, 100% das cotas estão comercializadas e a startup estuda novos lançamentos.