Futuro pós-pandemia
Quarto escritório e “day use”: hotéis se reinventam para reverter a crise
Com a crise provocada pelo novo coronavírus, grandes grupos hoteleiros tiveram de se reinventar para manter parte de seus quartos ocupados e não fecharem as portas. Em algumas redes, pacotes de hospedagem semanal deram lugar ao “day use” (um dia de uso), quartos se transformaram em escritórios e espaços para eventos, em salas para reuniões corporativas. E com a retomada das atividades em algumas cidades, grande parte dos hotéis estrutura um grande projeto de segurança para evitar a contaminação de funcionários e hóspedes.
Cerca de 77% das 22 unidades do Bourbon Hotéis & Resorts, distribuídas entre Brasil, Argentina e Paraguai, já voltou a operar. As demais, retomam as atividades em agosto. A ocupação, contudo, varia entre 20% e 25%. “Contratamos uma consultoria e levamos mais de um mês para definir os novos protocolos [de segurança]. Agora, estamos extremamente seguros. Somos hospitais sem médicos”, garantiu Annie Morrissey, diretora de vendas e marketing do grupo.
Para garantir receita até a volta total das operações, o Bourbon passou o oferecer hospedagens “Day Use” nas unidades de Cataratas do Iguaçu (PR), Santos (SP) e Atibaia (SP), em que os clientes podem aproveitar o entretenimento do hotel durante o dia, como se fosse um clube; transformou quartos em escritórios e está alugando espaços de eventos para reuniões corporativas.
“Na unidade de Curitiba, estamos fazendo delivery no nosso restaurante japonês e em breve também vamos entregar feijoada. Se a gente não se movimenta, morremos na praia, afinal nosso custo é muito alto. Temos que ter paciência e criatividade”, afirmou Annie.
Em 40 cidades brasileiras, a startup de hospitalidade indiana OYO Hotels & Homes está com 50% de suas unidades fechadas por conta da pandemia. Para retomar as atividades, a empresa se baseia na China, maior mercado da marca, onde a ocupação média caiu de 70% para 10% com o coronavírus e hoje está em 45%. “Conseguimos ver uma luz no fim do túnel a partir da experiência da OYO na China. No Brasil, estamos com a ocupação três vezes acima da média do mercado, [próxima dos 15%]. Há muitos casos de hóspedes que têm grupo de risco na família e precisam ficar em quarentena após um possível contágio”, explicou Henrique Weaver, country head da OYO no Brasil.
Para ajudar os hotéis parceiros e os profissionais da saúde, a OYO também ofereceu mais de 1 mil estadias gratuitas para médicos, enfermeiros e bombeiros. Os hóspedes não pagaram pelo serviço e o hotel, por sua vez, recebeu o valor da rede como um incentivo para superar este período de crise. “Estamos tentando entender a velocidade de volta do Brasil. Enquanto isso, criamos um selo de segurança como foco em saúde e segurança e esperamos treinar 50% dos hotéis do país até agosto”, disse Weaver.
Entre os processos que a OYO passou a determinar estão a redução de contato no check in, priorizando processos por e-mail, envio de café da manhã no quarto e maior rigor na higienização — as áreas comuns, por exemplo, devem ser limpas a cada duas horas. “O hóspede precisa estar seguro e se sentir seguro para voltar”.
Rigor em higiene é prioridade
Levantamento realizado pelo grupo Accor com 530 clientes da capital paulista e região metropolitana apontou que 87,22% dos profissionais que preferem fazer home office aceitam trabalhar em um quarto de hotel adaptado, sendo que para 61,36% deles um alto padrão de higiene seria diferencial em época de pandemia, seguido por wifi de alta velocidade (56,25%).
A rede hoteleira, que lançou em maio o modelo “Room Office” (quarto escritório), em São Paulo, expandiu em junho o serviço para 35 endereços em outras regiões do Brasil, incluindo Foz do Iguaçu e Curitiba, no Paraná, e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. No período das 8h às 20h, a cama dá lugar a mesas, cadeiras, sofá, frigobar e, em algumas unidades, equipamentos para reunião online, como monitores e outros utensílios para áudio e visual.
“A aceitação do produto nos mostra que estamos no caminho certo. Nesse momento de isolamento social, muitas pessoas estão buscando tranquilidade e infraestrutura para trabalhar. Ter um local seguro, perto de casa, confortável e com preço acessível é uma solução para muitos profissionais de diferentes áreas”, explicou Olivier Hick, COO das marcas midscale e econômicas da Accor no Brasil.