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A IA tem sido utilizada de forma crescente na área médica com a finalidade de agilizar diagnósticos e outros objetivos. Crédito: Rawpixel.

IA e saúde

IA na saúde: startups brasileiras se destacam na América Latina e relatório aponta tendências para o futuro

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias
25/10/2023 10:23
A inteligência artificial (IA) tem impactado a maneira como empresas gerenciam sua força de trabalho, fazem negócios e até mesmo lançam produtos. Enquanto o assunto toma seu lugar na agenda de companhias de diferentes portes, o burburinho em torno da tecnologia também sinaliza um bom momento para as empresas no ramo que desejam captar recursos, especialmente em áreas com grande potencial de incursão de ferramentas de controle de qualidade e precisão, como a saúde.
De acordo com um relatório da plataforma Distrito, essas startups brasileiras de IA na saúde captaram cerca de US$ 65 milhões em 36 rodadas de financiamento nos últimos sete anos.
Na pesquisa "Uma Análise da Inovação e Tecnologia no Setor de Saúde", o Distrito destaca que as healthtechs que incorporam IA têm encontrado um terreno fértil para criação de  soluções do setor médico, com destaque para pesquisas clínicas, saúde pública e administração médica.
Apesar de captarem investimentos há quase uma década, essas startups ainda apresentam diferentes graus de maturidade. Em relação aos aportes recebidos nos últimos sete anos, o destaque está para as empresas em fase inicial, em cheques que variam entre pré-seed e seed. O relatório também indica que um baixo percentual de empresas avança para as séries A e B.
Uma das justificativas para isso é a ausência de profissionais familiarizados com recursos mais refinados da tecnologia, o que prejudica o avanço das soluções de IA na área da saúde. O caráter de gestão e B2B do setor (atualmente, 27,6% das healthtechs brasileiras trabalham com o auxílio à gestão de instituições de saúde) também serve de entrave para o avanço de soluções voltadas ao uso de IA para o cuidado de pacientes.
Essa situação sugere que, embora a tecnologia seja amplamente aceita, o mercado brasileiro ainda enfrenta um longo percurso para consolidar soluções de IA na área da saúde. Os fatores envolvem, principalmente, o extenso trabalho envolvido no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos modelos de machine learning e até mesmo barreiras técnicas relacionadas à falta de profissionais especializados no mercado nacional,
explica Gustavo Gierun, CEO e fundador do Distrito.

Onde está a IA na saúde?

Por seu caráter preditivo e ágil, a inteligência artificial tem sido utilizada de forma crescente na área médica com a finalidade de agilizar diagnósticos, definir os protocolos médicos mais apropriados para cada caso e também trazer mais eficiência à gestão de recursos em diferentes instituições hospitalares.
O Brasil já tem certo pioneirismo no assunto. Com a pandemia de Covid-19 e a atenção à saúde primária, o país viu proliferar o número de soluções de empresas de tecnologia dedicadas a encurtar filas de atendimento, prevenir idas desnecessárias a hospitais e atendimentos “inteligentes”, baseados em dados para a tomada de decisões. O mesmo salto pôde ser visto no mercado de venture capital: entre 2020 e 2021, o investimento global em inovações para a saúde cresceu 95,6%.
É do país, por exemplo, a healthtech Laura, startup curitibana de telemedicina e monitoramento assistido e automatizado. A empresa desenvolveu, em 2016, a Robô Laura, que gerencia riscos e alerta médicos sobre casos de progressão de infecções em hospitais ao se conectar a prontuários dos pacientes e suas informações clínicas.
Outro exemplo é o da startup Munai, empresa curitibana que utiliza inteligência artificial para o acompanhamento clínico de pacientes. Em agosto de 2023, a startup recebeu um investimento de US$ 85 mil da Fundação Bill e Melinda Gates para o desenvolvimento de uma tecnologia que se apoia em IA generativa para a digitalização de protocolos médicos e redução no uso desmedido de antibióticos no país.

Futuro da tecnologia

Segundo o relatório, o montante destinado a startups com soluções de IA representou pouco mais de 1% do total investido em healthtechs da América Latina ao longo de todo o ano de 2022. Foram investidos, ao todo, US$ 4,7 milhões em sete transações. Apesar de pequeno, o percentual aponta para uma tendência de crescimento, já que o ano foi o segundo com maior volume de investimento na história para empresas de IA na área da saúde.
Para o futuro, indica o Distrito, são esperados avanços em áreas já exploradas pelas healthtechs de IA, principalmente nas frentes de gestão hospitalar e de consultórios, como a otimização de controle de prontuários, triagens e armazenagem de dados.
Também são esperados avanços em recursos como machine learning para a detecção preditiva de doenças, diagnósticos mais ágeis e desenvolvimento de medicamentos. Do lado cultural e tecnológico, o relatório destaca o uso crescente de smartphones e o amplo acesso à internet como fatores que contribuem para a expansão do setor.