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Mais de 60% dos fundadores de startups no Brasil estão acima dos 35 anos. Crédito: Moon Safari/Bigstock.

Founders Overview 2024

Menos jovem do que se imagina: conheça o perfil dos fundadores de startups no Brasil

GazzConecta
16/08/2024 18:23
Big techs como Google, Apple e Meta nasceram das mentes visionárias de jovens fundadores, ainda na casa dos seus 20 e poucos anos. Larry Page e Sergey Brin, por exemplo, fundaram o Google durante seus estudos de doutorado em Stanford, com cerca de 25 anos. Steve Jobs lançou a Apple quando tinha apenas 21 anos. Mark Zuckerberg criou o Facebook aos 19 anos, enquanto ainda era estudante em Harvard. A trajetória deles pode fazer crer que negócios disruptivos nascem ainda dentro de uma universidade - ou fora dela, quando alguém resolve abandoná-la, como aconteceu com Jobs. Mas este não é o caso da maioria das startups criadas no Brasil.
De acordo com a Founders Overview 2024, segunda edição da pesquisa produzida pela investidora early stage ACE Ventures em parceria com o Sebrae Startups, o perfil dos fundadores de negócios de tecnologia no Brasil segue outro caminho. Por aqui, 35,3% dos founders têm entre 35 e 44 anos e 25,9% têm entre 45 e 54 anos. O resultado corresponde a mais da metade dos 900 empreendedores entrevistados para o estudo, com negócios que faturam entre R$ 360 mil e R$ 300 milhões por ano.
No caso da faixa de idade de Zuckerberg, Jobs, Page e Brin quando fundaram suas companhias (entre 18 e 24 anos), ela corresponde a menos de 4% da base da pesquisa.
"Se, antigamente, a visão corrente era de que os empreendedores eram jovens recém-formados, hoje vemos profissionais sêniores que vivenciam o mercado e decidem atacar uma oportunidade. Por muitas vezes, as startups criadas estão conectadas com alguma dor que esses founders viveram durante sua passagem por outras corporações. Além disso, nesse contexto, ainda é possível aproveitar os relacionamentos formados no mercado corporativo", afirma Pedro Carneiro, sócio-diretor de investimentos da ACE Ventures, em nota.

Motivações e gênero dos empreendedores

A conclusão do estudo é que o perfil dos fundadores de startups no Brasil é cada vez mais composto por pessoas bem qualificadas e experientes, sejam executivos do mercado corporativo ou empreendedores de segunda viagem. A maioria deles (44,5%) resolveu apostar na jornada empreendedora após ter trabalhado no mercado corporativo, contra 17,5% de pessoas que já haviam empreendido em outro setor; 12,3% que havia atuado como profissional autônomo; 8,4% de ex-funcionários de startups; 6,3% que vieram do funcionalismo público e apenas 4,2% que não tiveram experiência profissional prévia.
Em 2024, é possível perceber um leve aumento no número de empreendedoras mulheres. Se a Founders Overview de 2023 apontava para 23,6% de mulheres como fundadoras de startups, o total deste ano subiu para mais de 28%. Por outro lado, a grande maioria dos fundadores se declara como homens nos dois levantamentos — a cada dez fundadores respondentes, sete se declaram homens (71,4%).
Observando os motivos mais assinalados como motivação para empreender pelos respondentes, temos: o propósito de mudar o mundo de alguma forma (77,6%); a ambição por maior retorno financeiro (35,3%), a oportunidade de liderar (17,9%) e o desejo por maior flexibilidade no trabalho (15,7%).

Mapa das startups

Assim como em 2023, a região Sudeste segue como principal foco de startups, segundo o relatório. No entanto, no levantamento mais recente, a região representa 55% das startups nacionais contra 66,7% dos respondentes no ano passado.
Em contrapartida, as regiões Sul e Nordeste demonstram crescimento. No caso do Sul, ele foi de 16,4% para 22,5%. A região Nordeste cresceu de 10,8% para 12,5%.. Já as regiões Centro-Oeste e Norte ficam com 5,12% e 4,15%, respectivamente.
É possível notar que as startups em diferentes estados do Brasil tendem a se concentrar em setores específicos, refletindo as características econômicas e demandas regionais. A maioria das startups do Espírito Santo, por exemplo, é formada por greentechs. No Rio Grande do Sul, há um maior número de edtechs, enquanto Paraná e Bahia compartilham um grande número de construtechs e proptechs.
Dentre as cidades, São Paulo capital se mantém próxima da média nacional nas principais características de fundadores, como background corporativo, acesso a incentivos e aceleração, além de métricas relativas ao crescimento e tamanho das startups. Por outro lado, o estado registra uma média menor de mulheres empreendedoras, registrando 23% contra 30% no conjunto dos outros estados do país.

Startups por áreas de atuação

As startups ouvidas pela ACE Ventures na Founders Overview de 2024 se distribuem de forma heterogênea. Os 10 setores que contam com mais startups atuando são edtechs (8,75%), fintechs (6,85%), retailtechs (5,95%), construtech e proptech (4,6%), greentech (4,49%), HRtech (3,93%), agrotech (3,82%), martech e adtech (3,7%), foodtech (3,48%) e biotech (3,25%).
De 2023 para 2024, percebe-se um crescimento das startups focadas em educação — na pesquisa do ano passado, as edtechs representavam 7% das startups pesquisadas. A tendência, segundo o estudo, é que este total tende a crescer com o aumento da procura de empresas e profissionais por atualização e desenvolvimento de novas habilidades, movimento influenciado por novas tecnologias que vêm surgindo no mercado.
As altas posições de fintechs, retailtechs e construtechs, por sua vez, segundo a ACE Ventures, refletem a cristalização de demandas básicas do cotidiano atual: vida financeira, consumo online e moradia. Por outro lado, uma novidade entre as startups mais observadas neste ano estão as empresas focadas em tecnologias e soluções verdes — outro reflexo das oportunidades (e preocupações) ressaltadas pela emergência climática global.

Como e para quem as startups vendem?

Em convergência com a visão de empreendedores mais maduros, que criam negócios com dores do segmento corporativo em foco, as maioria das startups entrevistada pela Founders Overview de 2024 tem o modelo SaaS como principal formato de vendas, com cerca de 40% das companhias (considerado também SaaS "mais" hardware). A seguir, a venda direta de produtos corresponde a 17% e o formato de marketplace responde por 10% das startups.
O foco no B2B também fica evidente ao analisar os dados das startups perfiladas na pesquisa. Mais de 54% das companhias têm outras empresas como seu público-alvo. Já o formato de B2C corresponde a cerca de 19% das startups.

Canais de venda

Quando perguntados como vendem seus produtos, os fundadores entrevistados pela Founders Overview ressaltaram os seguintes canais: parcerias (50%), WhatsApp (39,7%), inside sales (33%) e eventos (29,2%). O estudo aponta para o crescimento da importância das parcerias e eventos para negociações no ecossistema brasileiro. As parcerias foram citadas por cerca de metade dos entrevistados como canal relevante de vendas.
O relatório ainda indica que a utilização de plataformas como Google Ads (23%) e Meta Ads (22%) mantiveram índices semelhantes aos da pesquisa do ano passado em que Google Ads representava (22%) e Meta Ads (18%). No entanto, esses canais eram listados entre os cinco preferidos de vendas na pesquisa de 2023, o que não acontece na edição atual.
“Quando comparamos os reports, percebemos que houve uma substituição na terceirização de canais de vendas, de Google e Meta via Ads para uso de parceiros. Isso indica que o empreendedor brasileiro ainda tem dificuldade para construir uma estrutura proprietária de vendas. Quem dominar métodos de venda tem muita vantagem no nosso mercado.”, diz Carneiro.

Investidores buscam negócios que utilizam IA na operação

A vocação bootstrap das startups brasileiras se confirmou na edição de 2024, com praticamente sete em cada dez dos fundadores indicando que não tiveram investimento externo. O fato já havia sido apontado na Founders Overview 2023
Para quase metade (49,5%) dos entrevistados, não faz diferença se o capital que será injetado é de um investimento anjo, venture capital ou corporate venture capital (CVC). Para as startups entrevistadas, o principal benefício do investimento está no networking e nas mentorias (61%) trazidas pelos investidores. Esse diferencial está acima do quesito financeiro (36%). Os fundadores cujas startups receberam capital estão, principalmente, na faixa de investimentos entre R$ 300 mil e R$ 600 mil (17%).
Outro dado relevante nesse aspecto é que 36,7% das startups respondentes notaram um crescimento no interesse de investidores em empresas que usam inteligência artificial. A razão, segundo conclusões da pesquisa, é que startups que implementaram IA em suas operações reportam um crescimento e ganho de eficiência operacional em 37%. Atualmente, as empresas que usam ferramentas de IA apontam que seu foco principal no uso dessas ferramentas está na análise de dados (28%) e automação de processos (24%). Há, ainda, startups que relatam uso de ferramentas para otimização de marketing (18%).
Além disso, a Founder Overview aponta que sete em cada 10 entrevistados têm o objetivo de realizar um M&A no futuro. Para 37% dos empreendedores, há um plano de venda para os próximos 5 anos, enquanto o prazo é de uma década para 21% dos founders. “O que pode ser um indicativo da visão de futuro desse perfil de fundador é que 41% das startups que mais crescem, em uma taxa de mais de 70% nos últimos seis meses, pertencem a founders que planejam um exit nos próximos cinco anos”, diz Carneiro.

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