Ciência
Pesquisadores da UEM desenvolvem tecnologia que reutiliza bitucas de cigarro
Pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) desenvolveram uma tecnologia inovadora para lidar com um dos maiores problemas de resíduos urbanos: as bitucas de cigarro. Um estudo realizado em 2023 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com apoio do Instituto para o Controle Global do Tabaco, aponta que dos 5,5 trilhões de cigarros produzidos anualmente no mundo, aproximadamente 4,5 trilhões de bitucas são descartadas de maneira inadequada. Em contrapartida, no projeto da UEM, por meio de um processo chamado hidrocarbonização, as pontas de cigarro são transformadas em hidrocarvões, material com potencial para purificação de água e tratamento de efluentes industriais.
Coordenada pelo professor Andrelson Wellington Rinaldi, do Departamento de Química, a pesquisa nasceu como um projeto de iniciação científica realizado pelo estudante de Licenciatura em Química Rogerio dos Santos Maniezzo. O trabalho já possui patente depositada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e foi premiado pela Sociedade Brasileira de Química em 2019.
Inovação sustentável
Muitas vezes descartadas de forma incorreta em ruas, rios e oceanos, as bitucas são feitas de acetato de celulose, um plástico que pode levar até 10 anos para se decompor. Quando se fragmentam, geram microplásticos que entram na cadeia alimentar de animais marinhos, amplificando o impacto ambiental. Segundo o estudo da Unifesp, uma única bituca pode contaminar até 10 litros de água, liberando substâncias tóxicas como nicotina e metais pesados que prejudicam gravemente ecossistemas aquáticos e biodiversidade.
Para enfrentar esse problema, os pesquisadores adaptaram um processo químico que "cozinha" as bitucas em altas temperaturas e pressões controladas, semelhante ao funcionamento de uma panela de pressão, transformando-as em hidrocarvões.
O hidrocarvão produzido atua como um adsorvente, capturando partículas e moléculas de rejeitos industriais. “É uma alternativa economicamente viável, pois o processo químico não é complexo e pode atender tanto o setor público quanto o privado”, destaca Rinaldi. A pesquisa também otimizou o processo para diferentes tempos e temperaturas, garantindo eficiência na transformação do material.
Potencial de aplicação
Além de promover uma solução ambiental para o descarte de resíduos, o projeto oferece uma perspectiva econômica ao criar uma nova cadeia produtiva. A coleta organizada de bitucas, aliada à fabricação de hidrocarvões, pode ser aplicada tanto em sistemas industriais quanto no tratamento de água em larga escala. A pesquisa ainda aponta a possibilidade de parcerias entre setores públicos e privados para ampliar o alcance dessa tecnologia no mercado.
Com o desenvolvimento desse processo, a UEM avança no uso da ciência para criar alternativas viáveis e sustentáveis, mostrando como resíduos prejudiciais podem ser transformados em recursos úteis. O próximo passo, conforme aponta Rinaldi, é buscar parcerias para viabilizar a produção em maior escala e explorar o potencial dessa inovação no Brasil.