Futuro do trabalho
Metade dos brasileiros aceitariam corte salarial por home office, aponta pesquisa
A multinacional estadunidense LogMeIn, especializada em implementação de trabalho remoto, publicou a edição anual de pesquisa sobre os hábitos dos trabalhadores de escritório de todo o mundo. A companhia ouviu, nas últimas três semanas de março, 2.250 trabalhadores nas Américas do Sul e Norte, Ásia, Austrália e Europa sobre o cenário de home office e o futuro do trabalho. No Brasil, foram 245 entrevistados. Entre os resultados que mais chamaram atenção no cenário brasileiro está o índice de 83,5% dos trabalhadores afirmando que adorariam adotar o home office de forma permanente.
Outro dado destacado pela LogMeIn foi a resposta de metade dos consultados quando o assunto é corte salarial: 50% dos trabalhadores topariam a redução, caso pudessem trabalhar de casa indefinidamente.
Além dos motivos como ganho de tempo para passar com a família e amigos e a redução de gastos com transporte e diminuição da poluição, um dos principais motivadores para aceitar a redução salarial seria a economia de tempo em trânsito, fator considerado o maior motivador de estresse para 73% dos entrevistados. A LogMeIn também defendeu na pesquisa que, se implementado o trabalho remoto em tempo integral nos escritórios no Brasil, cada funcionário poderia economizar uma média de 50,32 minutos por dia no trânsito.
A head de marketing para a América Latina na LogMeIn Vanessa D’Angelo explica que os dados da pesquisa, feita no início da pandemia no Brasil, foram colhidos quando os possíveis impactos econômicos ainda eram desconhecidos e refletem a experiência dos respondentes naquele período. Ainda assim, a profissional acredita que, passados quase quatro meses após as entrevistas, a ideia de trabalhar em casa ficou ainda mais solidificada no mercado.
"Especificamente no Brasil, ainda existia um tabu muito grande em relação a este tema, ao contrário do cenário de negócios global, que já estava mais acostumado ao home office. Com a obrigatoriedade de se adaptarem às pressas ao home office, muitas empresas brasileiras passaram a observar os inúmeros benefícios desta forma de trabalhar para o bem estar de seus colaboradores – e tudo isso sem perder a qualidade do serviço e a produtividade", defende a head de marketing.
Já a presidente paranense da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-PR), Andréa Gauté, acredita que os altos índices de adesão ao home office e até a concordância com a redução salarial podem estar ligados a uma maior qualidade de vida, mas também a um cenário de desemprego e incerteza econômica. "Estamos vivendo um momento de não só medo do desemprego, como também medo de sair e contrair o vírus", explica a profissional.
Por isso, a aposta da associação é que os modelos híbridos, alternando dias de trabalho em casa e nos escritórios, atenderão melhor a cultura organizacional da América Latina e serão comuns em um cenário em que já estejam disponíveis vacinas contra o novo coronavírus.
"A pandemia, além de acelerar a transformação digital, também ajudou a eliminar algumas crenças limitantes como a de que os profissionais não conseguem produzir e fazer entregas à distancia. Por outro lado, as pessoas estão sentindo falta do convívio de aprendizado em grupo e com a cultura organizacional. Então um modelo híbrido funcionaria para evitar deslocamentos entre cidades para reuniões ou horas em trânsito. Entretanto, apesar de nós da ABRH acreditarmos que a tecnologia veio para ficar, também sabemos que o contato ainda é muito importante", resume.
No início do mês passado, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou um estudo mostrando que o home office poderá ser adotado por 22,7% das ocupações no Brasil, alcançando mais de 20 milhões de pessoas após a retomada econômica. Isso significa que, a cada cinco trabalhadores formais, um deverá permanecer trabalhando à distância. Este cenário deve colocar o país na 45ª posição mundial de países com o maior número proporcional de vagas remotas e no segundo lugar no ranking na América Latina, atrás do Chile com 25,74% das vagas.
Millenials lideram "resistência" a retornar aos escritórios
Outra pesquisa que deu algumas pistas sobre o comportamentos dos trabalhadores brasileiros no pós-pandemia foi publicada pela rede social LinkedIn no último dia 9. Após o anúncio de retomada de atividades econômicas em algumas cidades brasileiras, a plataforma profissional resolveu entrevistar quase 1,3 mil usuários da rede sobre os sentimentos em relação ao retorno aos seus postos. Os participantes foram divididos entre as gerações millennial (nascidos entre a década de 1980 e começo dos anos 2000), Geração X (nascidos no início de 1960 até o início dos anos 80) e Baby Boomers (nascidos entre os anos de 1946 e 1964).
O levantamento concluiu que uma parte relevante dos trabalhadores sente-se "obrigada" a voltar a seus postos de trabalho físicos, mesmo temendo o contágio por Covid-19. Os millennials e baby boomers são os que mais compartilham essa sensação, num total de 16% em cada geração. Essa percepção muda para a Geração X (8%). Em contrapartida, ainda entre os millennials, um quarto (27%) alegou que já faz home office ou prefere ficar em casa enquanto houver risco.
Entre os que se sentem obrigados a voltar, 29% são funcionários de grandes empresas, 15% estão em companhias de médio porte e outros 7% trabalham em pequenos negócios.