Douglas Salvador
Mercado cervejeiro: um dos segmentos em alta no Brasil
Nos últimos anos, o mercado cervejeiro se tornou um dos segmentos que mais tiveram alta no Brasil. Neste cenário, e produzidas com diferentes rótulos e matérias-primas, as cervejas artesanais vêm conquistando os brasileiros através de seu sabor e habilidade de contrapor tradição e modernidade em um único produto. Para falar sobre essa crescente do mercado cervejeiro, o podcast Papo Raiz convidou o CEO e fundador do Clube do Malte, Douglas Salvador, que também é engenheiro civil por formação e especialista em marketing e gestão de negócios.
Durante a conversa no Papo Raiz, Douglas trouxe um pouco da história do Clube do Malte, que há dez anos tornou-se um dos mais tradicionais e mais conhecidos clubes de cervejas especiais que opera com modelo de assinatura, venda avulsa, linha própria de produtos e B2B no Brasil. Nessa trajetória, o CEO destacou o que foi primordial para que a empresa conseguisse se consolidar no mercado cervejeiro.
“Quando a gente montou o conceito do Clube do Malte, que inicialmente se chamava ‘Confraria do Malte’, de 2010 a 2016 foi um momento de mercado muito aquecido, de cervejaria entrando, dólar baixo, muito produto vindo a preço competitivo e depois o mercado foi se acomodando. A cultura da comunidade foi o que fez a diferença no Clube do Malte, durante os anos de existência”, relatou.
Ainda durante a entrevista, Douglas Salvador aproveitou para falar quais serão os próximos passos do Clube do Malte para que este se mantenha dentro do mercado cervejeiro como uma empresa que oferece praticidade e economia para todos os consumidores. “Agora, a gente está com um projeto de criar uma rede de pequenas lojas, mas com um conceito totalmente diferente porque, em 2010 precisávamos de curadoria e de alguém para explicar, e hoje a gente precisa de conveniência, de posicionamento geográfico, preço legal, produto gelado”, disse.
Com longos anos de experiência, Salvador avaliou a atual conjuntura do mercado cervejeiro, além de pontuar o que pode ter contribuído para o crescimento das cervejarias no Brasil e o que será determinante para que esse setor se mantenha estável nos próximos anos.
Como está o mercado cervejeiro?
Apesar da alta carga tributária e outros desafios ao qual está submetido, o mercado cervejeiro tem criado modelos de negócios diferenciados para atrair novos apreciadores e difundir a cultura da cerveja constantemente. Segundo Douglas Salvador, essa busca por evolução e aprimoramento no setor pôde ser observada na última década. “Dez anos atrás a gente montou o Clube do Malte e tinham poucas cervejarias. Nesses 10 anos o negócio cresceu muito rápido e eu acho que um dos motivos para isso é porque é algo que não tem barreira de entrada, é um negócio que envolve muito a paixão”, avaliou o CEO.
Para ele, o hábito das pessoas beberem cerveja também foi outro estímulo que fez com que esse tipo de serviço sobrevivesse até mesmo em meio à crise provocada pela pandemia da Covid-19. “Cerveja é uma das coisas vitais e não tem como não existir cerveja, porque tem sabor, tem diversão e é um motor social, que quando você está com algum problema ou quer comemorar alguma coisa, a cerveja está ligada a esses momentos. A sociedade não vive sem um fermentado ou destilado”, disse Salvador.
O empresário também ressaltou que o mercado cervejeiro aprendeu a se adequar às formas de compra e venda das bebidas. “Às vezes, quando se tem uma cultura de exportação, trabalham-se marcas diferentes num produto que é o mesmo para respeitar o posicionamento e comportamento de consumo nas praças em que se está vendendo”.
Como funciona a margem de lucro do mercado cervejeiro?
Como qualquer outro empreendimento, o mercado cervejeiro também possui certa lucratividade dependendo do contexto em que está inserido e da capacidade de comprar e vender os produtos. No caso de uma distribuidora de cervejas, por exemplo, a margem de lucro fica em torno de 15% a 50% e, segundo o CEO do Clube do Malte, existem alguns motivos para esse percentual ser restrito. “A margem do negócio de cerveja é apertada porque o imposto de cerveja é pesado e o custo do produto também é alto, muito insumo do que se usa para fazer a cerveja é dolarizado. O custo para você produzir é uma coisa e o custo para você colocar um produto na gôndola é outro. É uma indústria difícil”, esclareceu Salvador.
Qual a atual importância do mercado cervejeiro no Brasil?
Considerado um dos setores que mais impactam a economia brasileira, o mercado cervejeiro gera boas oportunidades para quem busca empreender. Além disso, outra característica que contribui para esse mercado é que, segundo o fundador do Clube do Malte, o país possui a particularidade de contar com a maior empresa de cerveja do mundo e que a população prefere muito mais beber cerveja do que um vinho, por exemplo.
“É muito mais fácil uma cultura da cerveja artesanal se desenvolver no Brasil do que a cultura do vinho. O Brasil está indo para um caminho semelhante a outros lugares do mundo, em que o negócio de cerveja é cada vez mais setorizado e pulverizado”, explicou Douglas Salvador.
Salvador ainda ressaltou que o desenvolvimento de estratégias e uma nova visão de negócios, foi o que fez o empreendedor do mercado cervejeiro brasileiro alcançar novos patamares. “Hoje, eu vejo que conseguiram profissionalizar o negócio tentando achar os seus caminhos, alguns movimentos de ganho de escala, alguns tentando se juntar e ganhar eficiência em distribuição, em armazenamento de estoque e alguns ganhos fiscais para poder operar em outros Estados, e eu acho que as empresas estão deixando de ser adolescentes para se tornar um pouco jovens”, pontuou.
Quanto fatura uma cervejaria artesanal?
As cervejarias artesanais ganharam destaque ao nível mundial nos últimos anos devido à variedade de cores, aromas e gostos dos produtos que disponibilizam aos consumidores. O faturamento estimado desse tipo de empresa pode variar de acordo com o tamanho do negócio, mas, em geral, fica entre 60% e 80% para lojas de varejo.
Segundo Douglas Salvador, manter uma margem de lucro equilibrada e, ao mesmo tempo vender produtos de qualidade nesse ramo requer alguns cuidados. “Para conseguir manter um padrão de bebida, tem muita tecnologia, muito processo e manter esse padrão numa cervejaria artesanal é algo que vai se construindo”, recomendou.
Ele ainda afirmou que esse modelo do mercado cervejeiro só foi ganhar um status diferente no Brasil, pois, internacionalmente, a cerveja do dia-a-dia já é considerada artesanal e que o Chopp foi adotado por empresas desse ramo como uma forma de garantir um melhor posicionamento das marcas. “O chopp é um produto estratégico para um modelo de negócio de cerveja artesanal, porque o líquido não é o mais caro, o resto é o mais caro, no caso, custo fabril e logística. Você investe uma parte de grana comprando barris, mas depois isso contribui no resultado no teu negócio”, ressaltou o empresário.
Qual o perfil do consumidor do mercado cervejeiro?
Que a cerveja já faz parte da cultura brasileira, isso é fato. E é pensando nesse sucesso de mercado, que as cervejarias estão apostando ainda mais no marketing para melhorar o resultado dos negócios e entender mais sobre o perfil dos consumidores para garantir novas experiências a essas pessoas.
No decorrer da entrevista ao Papo Raiz, o empresário Douglas Salvador explicou que existem diferentes tipos de clientes no mercado cervejeiro: o prospect (potencial cliente) que ainda não bebe cerveja artesanal, mas já viu que tem algo diferente nesse produto; o entrante, que belisca algumas coisas junto com a cerveja do dia-a-dia; e o cervejeiro que só toma a bebida artesanal.
“Ao mesmo tempo que é complicado educar essa galera toda para explicar o que é cada produto, nós estamos muito no começo do mercado e tem muita gente no Brasil que não toma ainda ou que toma e não sabe e, assim, é um desafio, mas tem muito cliente para entrar nesse mercado e, nesse aspecto, eu acredito que as grandes cervejarias ajudam o mercado”. (Douglas Salvador, CEO Clube do Malte)
Salvador ainda pontuou que, além de identificar esses perfis, é necessário sempre estar atento aos hábitos dos consumidores. “A gente tem que entender muito o comportamento do cliente e ter um produto competitivo com um preço disponível para todos”, concluiu o empresário.
*Artigo produzido pelo Papo Raiz – uma conversa descontraída e divertida sobre empreendedorismo e assuntos em alta na sociedade.