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“Chegamos a um patamar de empresas que já provaram sua viabilidade, têm fluxo de caixa consistente e estão estáveis, mas ainda possuem grandes oportunidades de expansão”, diz Vitor Torres, fundador e CEO da Contabilizei. Crédito: Divulgação.

Histórico de sucesso

Os segredos da Contabilizei para atrair investimentos milionários

Fernando Henrique de Oliveira
Fernando Henrique de Oliveira
08/11/2024 15:55
Em outubro, a gestora americana Warburg Pincus adquiriu uma participação minoritária na Contabilizei, fintech curitibana pioneira na oferta de serviços contábeis digitais para micro e pequenas empresas no Brasil. A transação, no valor de US$ 125 milhões, também fez da Warburg Pincus a maior acionista da empresa.
Com uma receita anual superior a R$ 300 milhões e um modelo de negócios financeiramente sustentável, a Contabilizei se encontra em um estágio avançado de maturidade. A fintech se mantém lucrativa e opera no ponto de equilíbrio, conforme destaca seu fundador e CEO, Vitor Torres. A estabilidade financeira e a base de 50 mil clientes foram determinantes para que a Warburg Pincus apostasse no potencial de crescimento da empresa, que agora, respaldada pelo capital estrangeiro, busca expandir sua presença no mercado nacional.
“A Contabilizei está em um momento de crescimento significativo. A entrada da Warburg Pincus veio em boa hora, em uma transação 100% secundária, quando não dependíamos de novos aportes para continuar crescendo”, afirma Torres. Ele diz que a gestora tem vasta experiência em empresas em estágio de maturidade, o que ajudará a fintech a dar os próximos passos. “Chegamos a um porte que se enquadra no ‘sweet spot’ - o perfil de empresas que já provaram sua viabilidade, têm fluxo de caixa consistente e estão estáveis, mas ainda possuem grandes oportunidades de expansão”, explica.

A transação e o contexto de investimentos

A venda minoritária à Warburg Pincus foi impulsionada não apenas pelo crescimento e estabilidade financeira da Contabilizei, mas também pelo ciclo de desinvestimento de fundos de venture capital que acompanharam a fintech desde sua fundação, como a Kaszek, que esteve na operação por quase uma década. Esses ciclos, comuns no ecossistema de venture capital, coincidiram com o momento em que a fintech alcançou o porte adequado para atrair a gestora americana, que já monitorava o potencial da empresa há mais de um ano.
Além da Warburg Pincus, a Contabilizei tem o apoio de um grupo considerável de investidores. Entre eles estão o SoftBank, que aportou R$ 320 milhões dois anos atrás, além de instituições renomadas como Goldman Sachs, o IFC (unidade de investimentos do Banco Mundial), e as também americanas Point72 Asset Management, de Stephen Cohen, e Kona Capital, entre outros.

Crescimento sustentável da Contabilizei como fator decisivo

Fundada em 2013, a Contabilizei segue uma estratégia de crescimento sustentável, sem ceder à pressão por uma expansão rápida. Ao contrário de outros players do mercado, que precisaram recorrer a demissões para equilibrar as finanças, a fintech curitibana tem mantido o foco na utilização responsável dos recursos, garantindo uma saúde financeira estável.
Enquanto muitas empresas buscam crescer sem considerar a sustentabilidade, sempre fomos conscientes com a utilização do capital que captamos
, afirma Torres.
Para ele, o grande desafio é equilibrar o crescimento com a manutenção desse equilíbrio financeiro. Apesar da liderança no setor no Brasil, a empresa busca maneiras de ampliar sua base de clientes e aumentar sua receita, mantendo uma taxa de crescimento superior a 30% ao ano.

Inovação no portfólio de produtos Contabilizei

Uma das estratégias-chave da Contabilizei tem sido o lançamento de novos produtos que trazer maior valor à jornada do cliente. “Começamos com a abertura de empresa gratuita e a oferta de serviços contábeis. Em seguida, introduzimos uma conta bancária para facilitar ainda mais a vida do empreendedor e, mais recentemente, um plano de saúde. Todos esses produtos existem para proporcionar a melhor experiência ao cliente”, explica Torres.
Atualmente, a fintech está expandindo seu portfólio para atender tanto às necessidades jurídicas das empresas (PJ) quanto às necessidades pessoais dos empreendedores e suas equipes.
É nessa linha que estamos seguindo: buscando oportunidades que ajudem no dia a dia da pessoa física. Queremos tornar a empresa cada vez mais relevante na vida dos empresários e seus colaboradores
, complementa o CEO.

Investimento em pessoas e tecnologia

A Contabilizei aposta fortemente em pessoas e tecnologia para aprimorar a qualidade dos serviços e a experiência do cliente. Torres explica que, enquanto o desenvolvimento da equipe é essencial para manter um padrão de excelência, a tecnologia é o que possibilita a escalabilidade e a otimização de processos.
A tecnologia da empresa atua em duas frentes: primeiro, na automação de processos burocráticos, conectando diretamente o cliente aos sistemas governamentais, o que simplifica etapas e reduz o tempo de resposta. Em paralelo, a experiência do cliente é aprimorada por meio de ferramentas de atendimento dinâmicas e acessíveis. “A tecnologia, somada ao trabalho dos nossos colaboradores, permite que entreguemos um atendimento rápido e eficiente”, destaca Torres.
Em relação à inteligência artificial, Torres aposta em uma abordagem pragmática. Embora ainda não esteja inserida nos produtos finais, a IA já é utilizada em processos internos, como vendas e atendimento, com o objetivo de melhorar a eficiência. A Contabilizei adota uma postura cautelosa ao implementar IA, focando em soluções personalizadas que, no futuro, poderão trazer valor real ao core do negócio.

Jornada empreendedora

Vitor Torres é um dos principais protagonistas na evolução do ecossistema de inovação de Curitiba. Desde 2012, quando fundou a primeira aceleradora de startups do Paraná, até hoje, a cidade passou por uma transformação vigorosa. Empresas como EBANX, MadeiraMadeira e Olist, os unicórnios curitibanos, estavam começando a dar seus primeiros passos quando ele encerrou a aceleradora e fundou a Contabilizei.
Para Torres, a construção de uma empresa de sucesso exige mais do que persistência. É necessário ter consistência e resiliência para enfrentar os desafios, principalmente ao lançar uma proposta disruptiva em um setor regulado como o de contabilidade. "Em alguns momentos, pensei em desistir, mas a convicção de que a contabilidade precisava mudar no Brasil me motivou a seguir adiante. Persisti porque acreditava que era essa minha missão", revela.
Hoje, à frente de uma empresa com 1,3 mil colaboradores e mais de 50 mil clientes, Torres reconhece que os maiores desafios são atrair e manter talentos alinhados à cultura da empresa e executar com precisão o planejamento estratégico. "Alinhar uma equipe grande e garantir a execução eficiente é fundamental para oferecer produtos que atendam às expectativas dos clientes", afirma.
Para ele, a chave da jornada empreendedora é saber reconhecer os sinais ao longo do caminho.
Acreditar no caminho é essencial, mas também é preciso ouvir os sinais. Desistir pode ser a melhor opção em alguns momentos, mas posso garantir que o primeiro, segundo ou terceiro obstáculo nunca são o fim. Persistir até que o verdadeiro último sinal vermelho apareça é o que nos mantém de pé
, completa.