Futuro do trabalho
Multinacionais anunciam home office permanente como benefício pós-Covid-19
Com a pandemia do novo coronavírus, empresas de diversos países fecharam as portas temporariamente e foram reabertas na casa de cada profissional de forma remota. No Brasil, o home office começou a ser oferecido por segurança há aproximadamente dois meses — quando o vírus registrou expansão pelo país. Algumas companhias, porém, já decidiram estender a medida de forma permanente após a quarentena, como forma de benefício aos funcionários, dado o bom feedback da equipe e o desempenho positivo de toda a organização no período.
No início de maio, Jack Dorsey, CEO do Twitter, anunciou que todos os funcionários que ocuparem cargos que permitam o trabalho remoto poderão optar pelo modelo para sempre. O executivo também disse que os escritórios não devem voltar a funcionar antes de setembro.
“Os últimos meses provaram que trabalhar em casa funciona. A [re]abertura dos escritórios será uma decisão nossa. Quando e se nossos funcionários voltarão a trabalhar de lá, será uma decisão deles. Quando decidirmos abri-los, será de forma gradual, cuidadosa e planejada”, informou Dorsey, no blog da empresa.
O Twitter não foi a única gigante de tecnologia a tomar essa decisão, tampouco a única empresa que vai oferecer esse benefício no Brasil. Nesta quinta-feira (21), Mark Zuckerberg, diretor-executivo e fundador do Facebook, afirmou em entrevista que pretende contratar funcionários para trabalhar remotamente em áreas onde a empresa não possui escritório e permitir que alguns empregados façam home office permanentemente.
Segundo pesquisas internas, Zuckerberg acredita que o trabalho remoto pode representar até 50% da força do trabalho da companhia nos próximos cinco a 10 anos. “Nós e muitas outras pessoas estávamos preocupados, achando que a produtividade realmente fosse despencar. Mas isso não aconteceu. Somos tão produtivos quanto antes, e algumas pessoas relatam estar ainda mais produtivas”, disse ele, ao The Verge.
Energia extra
Em março, os 200 funcionários da Zee.Dog, startup brasileira de produtos para animais, conquistaram um benefício inédito no Brasil: uma jornada de trabalho de quatro dias por semana. No mesmo mês, contudo, a pandemia do coronavírus fez a equipe deixar o escritório e trabalhar em casa por segurança. Uma mudança repentina nos planos da empresa.
Ao registrar aumento de produtividade e feedback positivo dos funcionários nos dois meses de trabalho remoto, a Zee.Dog anunciou na semana passada que todos [exceto a área de varejo] terão flexibilidade para fazer home office para sempre após o fim da quarentena. Ou seja, poderão trabalhar de casa quando quiserem e se quiserem.
“Não conseguimos provar que o rendimento da equipe aumentou por conta do home office, mas a sensação de ter mais tempo do dia certamente contribui com os resultados. Além disso, quando as pessoas não passam duas horas indo e voltando da empresa, sobra mais energia para trabalhar”, argumentou Thadeu Diz, diretor criativo da marca e um dos fundadores da startup.
Na avaliação de Diz, o novo coronavírus está mudando paradigmas na economia mundial e fazendo as empresas enxergarem que é possível trabalhar remotamente sem prejuízo financeiro. A dificuldade, diz ele, é perpetuar os valores da companhia a distância. “Vamos disseminar nossa cultura quando a galera estiver junta em eventos e festas. Não acho que alguém vá ficar 100% em home office. Tudo em excesso cansa, e a beleza do projeto remoto é ter a opção de ficar em casa e voltar ao escritório quando quiser”, acrescentou o executivo.
A XP Investimentos é outra empresa brasileira que deve flexibilizar o modelo de trabalho de seus 2,7 mil funcionários. Em uma pesquisa realizada com a equipe, a instituição financeira verificou que 95% dos funcionários gostariam de manter, pelo menos, um dia por semana de home office e quase 60%, entre três e quatro dias.
Escritórios reconfigurados
Com os resultados, a XP decidiu estender o trabalho remoto até o fim deste ano, enquanto estrutura um projeto de home office permanente [e optativo] e ajusta os escritórios para receber equipe, clientes e parceiros. “O grande desafio é entender quando o colaborador deve ter interação com a cultura da empresa e quando ele precisa estar fisicamente no escritório, como em integrações, treinamentos e reuniões”, explicou Guilherme Sant’Anna, sócio e responsável pela área de gente e gestão da XP.
Segundo o executivo, com a provável adesão da equipe ao projeto de trabalho remoto permanente, os escritórios da companhia devem ser reconfigurados e modernizados — tendência que também é corroborada por Thadeu Diz, da Zee.Dog. Entre as possíveis mudanças estão: redução de estações de trabalho e criação de salas de reunião interativas e de espaços comunitários e de convivência.
“Com o home office, poderemos contratar pessoas de forma descentralizada, do Brasil e do exterior. Isso muda tudo para a gente e soluciona a escassez de talentos que vivemos no país. A empresa sentiu o momento de se reinventar e isso faz muita diferença para o negócio”, destacou San’Anna.