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A De Benguela foi fundada em Curitiba, em 2016, inicialmente como uma loja online, mas agora conta com duas lojas físicas, uma em Curitiba e outra em São Paulo. Crédito: Divulgação.

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Empreendedora curitibana fatura R$ 6 milhões com negócio voltado a cabelos crespos e cacheados

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias
23/11/2023 14:38
Há uma demanda inflada na indústria da beleza. Com a pandemia e a maior preocupação com os temas de saúde e bem-estar, a atenção à aparência também esteve em alta. Contudo, mesmo com a venda crescente de itens como cosméticos e serviços de estética, há uma parcela gritante de consumidoras que segue desatendida pela indústria tradicional: a de mulheres com cabelos crespos e cacheados.
Para a empreendedora Thaís Ramos, essa percepção era o que bastava para motivar a abertura de um pequeno negócio focado nesse público. Hoje, ela é CEO da De Benguela, empresa que vende apliques e alongamentos de cabelos crespos naturais que, em 2022, faturou R$ 6 milhões.
Tudo começou com uma experiência própria: em processo de transição capilar, Thaís se viu diante de uma sinuca de bico ao buscar fornecedores nacionais de apliques e alongamentos de cabelos naturais com uma aparência similar a de seus cabelos na época. A saída foi recorrer à importação de mechas vindas de um site gringo.
Considerando o contexto e possíveis falhas no caminho (vide os não raros casos de atrasos na entrega e problemas alfandegários), ela se surpreendeu com a experiência de compra e qualidade do produto, e logo quis espalhar a ideia entre as brasileiras. “Cabelos naturais são um produto de difícil importação. Há leis que limitam a quantidade de empresas que podem vender e isso torna tudo mais complicado”, conta a empreendedora.
A De Benguela foi fundada em Curitiba, em 2016, inicialmente como uma loja online. Com foco em beleza e autoestima, a De Benguela surgiu como uma alternativa de resgate à autoestima de mulheres, defende Thaís.
O diferencial do negócio, segundo ela, está no olhar atento a diferentes tipos de público, de quem está passando por transição capilar a tratamentos quimioterápicos, nos quais os fios costumam cair de maneira intensiva. Todos, em comum, compartilham o desejo de esticar o comprimento das madeixas ante um período de tempo específico.
“Eu alisava o cabelo desde os 6 anos de idade, então fazer uma transição capilar foi um momento muito difícil da minha vida, devido à autoestima”, lembra. “No momento em que percebi que o processo poderia ser mais leve, tive certeza de que o que atendia a minha necessidade poderia atender a de milhares”. Também estão na mira da De Banguela aqueles que desejam mudar por estética, em busca de um novo visual, mas que até então não tinham à disposição opções no mercado voltados aos cabelos crespos.
A popularidade do e-commerce recém-lançado levou Thaís a abrir a primeira loja física, também em Curitiba, em 2018. O objetivo do espaço era servir também como um ponto físico para reunir a comunidade de consumidoras que encontravam ali oportunidades de trocar experiências, relatos e dúvidas em relação aos produtos e também sobre seus processos de transição capilar, por exemplo.
“Tem um lado bom de ser único, mas também exige que clientes criem a sua base de comparação”, diz. Por isso, a fundadora se dedicava, desde o início, à criação de conteúdo informativo na internet.
Comecei a criar conteúdo para ensinar como lidar com os cabelos, como aplicar, explicar como funciona etc. Meu intuito era estar próxima do meu cliente.
, comenta.
De lá para cá, a De Benguela manteve um ritmo acelerado de crescimento. Abriu uma nova loja física em São Paulo, alcançou um faturamento na casa dos milhões e tornou-se a principal importadora de cabelos naturais do país, um status que nem mesmo a pandemia e suas restrições transfronteiriças foi capaz de limar — a empresa cresceu 300% no período.
“Nascemos como uma DNVB em um momento em que o online não era tão pujante como nos dias atuais, então conseguimos driblar os desafios, porque já sabíamos fazer o que fazíamos”, diz.

Artesanal e único

Atualmente, a De Benguela continua se apoiando nas importações para dar conta de um volume crescente de pedidos por todo o país. Em terras brasileiras, os cabelos naturais vendidos pela loja passam por um processo quase artesanal, pelas mãos de um time de artesãs responsável pela transformação das mechas em apliques, perucas, meias-perucas, rabos de cavalo, entre outros itens.
Nosso diferencial está nesse cuidado e na criação de valor em cada peça e pelo negócio como um todo. A geração de empregos é um valor muito importante para nós
, diz Thaís.
A De Benguela conta 25 funcionários, incluindo times de departamento comercial, marketing, RH, logística, estoque e financeiro. Além do e-commerce, a De Benguela também tem duas suas lojas físicas, responsáveis por 25% do faturamento.

O futuro do negócio

Nos planos da empreendedora, além da abertura de uma nova loja no Rio de Janeiro, está um verdadeiro “banho de loja” no negócio. A ideia é que o site passe por uma melhoria de usabilidade em meados de 2024, além de incorporar a função de venda de produtos pelas próprias clientes. “Afinal, estamos falando de um produto de valor. Nosso objetivo é permitir que o cliente seja mais protagonista de sua história”, diz.
A De Benguela também deve se aproximar do B2B. Na prática, isso significa que o negócio deve estabelecer parcerias com estabelecimentos comerciais, como salões de beleza, via cursos ou vendendo seus produtos próprios para cabelos crespos. “Recebemos muita demanda de salões que não sabem lidar com clientes crespas, em cortes, apliques e até penteados para noivas. Sem dúvida é uma oportunidade”, avalia.
Com todas essas ações, a expectativa é que a De Benguela fature cerca de R$ 10 milhões em 2023 e amplie o resultado em 60% em 2024. Somado a isso tudo, a empreendedora também espera expandir os limites da De Benguela para além do Paraná — ainda que a participação ativa na comunidade empreendedora da cidade seja positiva para o negócio.
“Para nós, é importante estar estabelecido em uma cidade que é naturalmente empreendedora e que nos ajudou a crescer. Queremos expandir, ter novas lojas, mas embora receba muito essa pergunta, não sairemos de Curitiba. Daqui não saio, daqui ninguém me tira”, brinca.