ESG
iFood: para ser ESG, empresa mira na educação e espera alcançar de entregadores a empreendedores
A adoção de indicadores sociais e de sustentabilidade tornou-se regra para grande parte das corporações. Longe de ser uma exceção restrita a poucos casos no mercado, a incorporação do ESG (sigla para social, ambiental e de governança) já tem parte na agenda estratégica de empresas de diferentes portes interessadas em acompanhar não apenas uma tendência global, mas reter uma parcela considerável de consumidores que preza pela responsabilidade socioambiental, transparência e posicionamentos claros em relação a temas considerados urgentes. Na corrida pelo posicionamento mais atraente aos olhos de investidores e consumidores, empresas adotam causas específicas, responsáveis por encurtar o caminho entre compromissos assumidos publicamente e seu real cumprimento. No iFood, empresa brasileira de delivery, a causa “eleita” com esse propósito foi a de educação.
Há dois anos, já em contexto da pandemia de covid-19, o iFood assumiu publicamente suas metas ESG para 2025. Para além das ações envolvendo a redução do impacto ambiental da operação — com a compensação das emissões de carbono das entregas e a eliminação dos utensílios de plástico, por exemplo — a temática educacional também passou a integrar a estratégia para os próximos anos.
Para decidir pelos esforços nesta frente e também definir o público-alvo dos programas, o iFood realizou uma pesquisa aprofundada com a base de usuários e funcionários, com o intuito de entender os impactos que os programas educacionais poderiam ter, caso a empresa decidisse seguir adiante com a ideia. Como resultado, o iFood percebeu que grupos de pessoas sub-representadas no setor de tecnologia, como mulheres e pessoas negras, além de pessoas de baixa renda, seriam os principais beneficiados. Já em relação ao foco das ações, o iFood estabeleceu dois: empregabilidade e educação básica.
“Desde o início, reconhecemos a importância de se entender qual meta social realmente tem a ver com o business do iFood. Não faz sentido afirmar ser ESG e não gerar impacto nas áreas que realmente têm relação com a solução que entregamos”, afirma Luanna Luna, head de educação do iFood.
Do lado tecnológico, o iFood criou o Potência Tech, com cursos profissionalizantes para quem deseja trabalhar na área. Com bolsas de estudos e trilhas específicas, o programa já impactou, em dois anos, cerca de 39 mil pessoas. Foram, ao todo, 17 mil bolsas de estudo concedidas e 1,5 mil pessoas empregadas — parte delas no próprio iFood. Os cursos são oferecidos em parceria com edtechs de todo o Brasil.
“Com um déficit tão grande em nosso mercado de tecnologia, fazia muito sentido investirmos nisso. Porque nós mesmos também somos impactados por essa ausência de mão de obra”, explica a executiva. “Mas, apesar de olhar para isso do ponto de vista interno, a intenção é formar esses profissionais para o futuro do trabalho, para o mercado”, diz.
Ao criar iniciativas para capacitar os profissionais que irão compor o mercado de trabalho daqui para frente, o iFood também mira no empreendedorismo. Em uma plataforma batizada de Decola, a empresa oferece mais de 100 cursos para restaurantes, entregadores e mercados que vão de vendas, finanças a elaboração de cardápios.
A iniciativa já impactou mais de 300 mil pessoas, segundo a empresa. Trata-se, porém, de uma pequena parcela do universo desejado pela empresa: a intenção é capacitar mais de 5 milhões de pessoas, de entregadores a donos de pequenos negócios do setor de alimentação, em cinco anos.
O que vem pela frente
Ainda na “metade do caminho” das metas assumidas para 2025, o iFood não prevê mudanças de rota em seu posicionamento em favor da educação tão cedo. Pelo contrário. A intenção é ampliar o número de bolsas de estudos em 2023 para permitir formações em larga escala, explica Luanna. “Tivemos alguns anos para testar o nosso formato. Agora queremos ampliar isso, buscando maior empregabilidade”, diz.
No centro das ações estará, também, o incentivo à educação básica, um esforço que tem sido adotado pela empresa com sua base de entregadores. Até o momento, o iFood já concedeu 5 mil bolsas de estudo para os entregadores inscritos no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), que concede certificados para conclusão do ensino fundamental.
Em janeiro deste ano, aproximadamente 1 mil destes entregadores receberam também o diploma do ensino médio. A ideia é facilitar a conclusão dos estudos, auxiliando esses profissionais a estarem mais próximos de novas oportunidades no mercado e até mesmo concurso públicos.
Neste momento, segundo Luanna, o iFood deve ampliar o apoio a entregadores ao longo de suas jornadas de educação básica. “Queremos ir além. Agora, depois do ensino médio, podemos pensar em auxiliá-los com bolsas de estudo para a faculdade. É assim que tornaremos o programa em algo perene e maduro”, conta.
Na ponta, está também a percepção de que a educação é uma maneira de gerar renda e transformação social, independentemente do retorno financeiro. O iFood é, hoje, um dos poucos a integrar a enxuta lista de unicórnios do país — e também um dos primeiros casos deste tipo no Brasil.
A posição de empresa bilionária reflete, em boa medida, com a facilidade em poder manter alguns investimentos em projetos sociais que não objetivam, necessariamente, obter lucro. “Entendemos que nem toda ação social terá um retorno para o negócio. É uma questão de cumprirmos com um papel adicional à sociedade, algo apartado do 'business'”, avalia.