Habitats
Hubs de inovação: saiba onde a inovação acontece em Curitiba
Um ambiente colorido, com salas de reunião que substituem grandes mesas por banquetas e geladeiras com doces e cervejas. Grama sintética no lugar de carpete, sala de jogos e divisórias de vidro.
Longe da imagem de espaço formal de grandes corporações e com cara de ambiente descontraído, esta é a primeira impressão de quem chega em hubs ou coworkings. Estes espaços reúnem diversas empresas, em um local propício para a troca de ideias, geração de negócios, aprendizado e promoção de conexão entre os pares.
Curitiba é destaque quando o assunto é criar ambientes favoráveis para os negócios. O número de habitats de inovação, olhando para dados paranaenses, por exemplo, cresceu 300% nos últimos três anos, segundo o Sebrae-PR. O mapeamento leva em consideração incubadoras, aceleradoras, hubs, parques tecnológicos, centros de pesquisa e coworkings. A quantidade de espaços de inovação passou de 25 em 2018 para mais de 100 no início de 2021.
Estes habitats são organismos, locais – físicos ou online – ou associações que acolhem e dão suporte a empreendedores iniciantes, atraem e retêm mão de obra qualificada e potencializam as chances de sucesso de novas empresas, sobretudo as startups, com soluções que têm a tecnologia como meio.
Na visão de Cris Alessi, Presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação, este conceito vai além. “Hubs de inovação são espaços de colaboração e cocriação de soluções. Eles agregam empreendedores, investidores, pesquisadores, empresas e vários outros atores do ecossistema com objetivo de alavancar produtos e serviços inovadores para o mercado. A geração de negócios é natural, mas eles também ajudam na conexão e maturidade do ecossistema”, descreve.
As seguidas premiações confirmam a vocação da capital paranaense quando o assunto é gerar novos negócios. No mês de setembro deste ano, Curitiba foi eleita a cidade mais empreendedora do país, segundo o Ranking Connected Smart Cities 2021. No estudo, elaborado pela consultoria Urban Systems, foram avaliados 677 municípios do Brasil em eixos como mobilidade, urbanismo, meio ambiente, energia, inovação, empreendedorismo e governança.
Não é à toa que Curitiba é o celeiro de unicórnios, reunindo gigantes: primeiro a fintech Ebanx, especialista em meios de pagamento, seguida pelo e-commerce MadeiraMadeira – ambas têm valor de mercado cotado em mais de US$ 1 bilhão.
Para que as empresas desse calibre cresçam de forma promissora, é necessário, além de empreendedores talentosos, um ecossistema propício e de conexão para o crescimento dos negócios. Parte do sucesso veio também com a criação do Vale do Pinhão, projeto que nasceu em 2017 para fomentar o desenvolvimento tecnológico e econômico da região.
“Em Curitiba vemos o aumento desses espaços. Hubs ligados a universidades, como a Hotmilk. Ligados a empresas, como o Distrito e a Aldeia. À Prefeitura, como os Worktibas e o Engenho da Inovação – sede da Agência Curitiba, entre outros. O resultado traz melhoria do ambiente de negócios, do empreendedorismo e crescimento das startups. O Vale do Pinhão, ano a ano, torna Curitiba a cidade das startups, do empreendedorismo, da qualidade de vida e dos negócios”, comemora Alessi.
Para entender onde as ideias de empresas inovadoras nascem em Curitiba, o GazzConecta mapeou os principais hubs e ambientes de inovação da cidade para formular um panorama das iniciativas que promovem novos negócios e conexões.
Criados para levar a inovação até a indústria, na área jurídica, varejo, e para gerar conexão, os hubs e habitats de Curitiba são os espaços onde a inovação acontece na prática.
Worktiba: primeiro coworking público do Brasil
O Worktiba é o primeiro coworking público do Brasil, com foco em empresários do ramo de tecnologia, capitaneado e gerido pela prefeitura municipal. Fundado em 2017, o coworking conta com unidades no Cine Passeio, Parque Barigui e na Rua da Cidadania do Boqueirão.
As empresas podem utilizar gratuitamente o espaço, participando de um edital aberto durante todo o ano. Os projetos de empresas passam por uma banca avaliadora para ingressar no coworking. Entre os requisitos, a empresa deve ter forte impacto socioambiental ou ser focada na economia colaborativa. Ao todo, 57 empresas fazem parte dos coworkings, 50 distribuídas nos espaços presenciais e 7 participando de hubs digitais. O espaço público conta com 110 posições de trabalho.
A ideia da prefeitura é que o espaço seja um local de networking que fomente negócios de startups em estágio inicial. Para Cibia Gimenez, gerente de projetos da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação, o grande objetivo dos coworkings públicos é levar desenvolvimento às startups de impacto, principalmente nos períodos iniciais do negócio, chamados de "vale da morte", estágio em que normalmente os empreendedores enfrentam maiores dificuldades para estabelecer as empresas.
“O grande desejo é que consigamos fazer com que as empresas que estão ali tenham sucesso. Nosso objetivo é dar uma base e ajudar estas startups a desenvolver negócios promissores”, descreve. Para ajudar no desenvolvimento das startups, a prefeitura oferece parceria com outros órgãos de modo a desenvolver as pequenas empresas. A capacitação acontece também em forma de eventos e conexões entre os integrantes dos espaços.
Um dos exemplos de startups incubadas é a Única Entrega, especializada em delivery feito apenas por mulheres. Em 2020, a startup já havia ultrapassado mais de 7,5 mil entregas em Curitiba e Região Metropolitana. Hoje, a equipe da Única Entrega faz parte do Worktiba Boqueirão.
Elospace une startups e advogados
A área do direito também deve ser inovadora, ágil e utilizar a tecnologia para seu aperfeiçoamento. Com esse propósito, a advogada Mariana Domingues ao lado da sócia Gisela Trovo fundaram o Elospace. O espaço funciona como um coworking para a área jurídica, instalado no bairro Cabral em Curitiba, e tem o propósito de modernizar e unir oportunidades na área do direito.
A ideia do hub nasceu como um perfil no Instagram, o Empreenda Law, que surgiu da vontade das fundadoras de falar também sobre empreendedorismo e gestão de empresas para advogados. O hub conecta startups com soluções para modernizar processos jurídicos e facilitar a vida do advogado a profissionais do direito que podem utilizar os benefícios do escritório físico e ainda fazer networking e negócios. O espaço conta com 36 posições de trabalho, 16 delas já ocupadas.
“O Elospace deve ser um elo de conexão. Temos espaço para as empresas, startups fixas, assim como oferecemos comodidade aos advogados com pequenas equipes ou recém-formados. Aqui, acontecem reuniões semanais de networking, startups fazem apresentações de venda, temos auditório online e presencial. Tudo voltado para a modernização da advocacia”, conta Mariana.
Habitat Senai: inovação para a indústria
Em 2011, a Federação das Indústrias do Estado do Paraná desenvolveu o Habitat Senai, uma aceleradora de inovação focada em soluções e otimizações para fábricas. Em junho deste ano, o Habitat ganhou vida fisicamente, no Campus Indústria do Sistema FIEP, no bairro Jardim Botânico. Participam do espaço startups, scale-ups e corporações.
“O espaço traz consigo essa ampliação do movimento de entendimento de infraestrutura física que promove a inovação”, descreve Felipe Couto, gerente de serviços, inovação e produtividade da FIEP. "Precisamos oxigenar para conviver com startups, somos uma empresa grande com lentidão e se relacionar com startups nos torna mais ágeis e, assim, levamos agilidade para o setor industrial”, explica.
Entre as corporações que fazem parte do hub estão a montadora de veículos Renault, a especialista em equipamentos Bosh, a construtora Rac Engenharia, assim como a produtora e exportadora de papéis Klabin.
Conforme explica Felipe, “o principal papel do Habitat é conectar setor industrial e startups”. Esta interação acontece em forma de processos de aceleração, onde indústrias propõem desafios e as startups participam, recebem mentorias e capacitação para que a solução seja testada e colocada à disposição da indústria.
No Habitat, o espaço físico foi pensado para conectar. Os acabamentos, cores e texturas proporcionam a conexão. As divisórias de vidro e espaços abertos para reunião foram projetados para tornar o ambiente mais inovador, destaca Maiara Faria, arquiteta que assina o projeto do hub.
Distrito, a maior empresa de inovação aberta do Brasil
O Distrito Spark CWB é um espaço de conexão entre startups, corporações, investidores e universidades. Localizado dentro de uma das principais faculdades de administração de empresas de Curitiba, a FAE, o hub oferece locais para eventos e treinamentos, salas privativas e espaços abertos, um lab de inovação e copa. A infraestrutura permite que corporações, startups, investidores e estudantes se relacionem, troquem ideias e façam conexões estratégicas.
Além do espaço de trabalho junto com uma comunidade de empreendedores, as startups residentes também têm acesso ao Distrito for Startups – um programa de desenvolvimento contínuo para startups em diferentes estágios de maturidade (ideação/MVP, tração e escala). O programa conta com mais de 100 mentores especialistas, treinamentos de negócios, plano de benefícios exclusivos, entre outros serviços. Com espaços também em São Paulo, o Distrito é a maior empresa de inovação aberta da América Latina.
Em sua missão, visa ajudar as pessoas que empreendem no universo de startups a evoluírem nos desafios de negócio de maneira mais rápida, por meio de um ambiente de troca e compartilhamento entre residentes e outros players do ecossistema. Atualmente, grandes empresas apoiam a comunidade de startups do Distrito como: HDI Seguros, Via Varejo, FAE, Microsoft, Rumo, Bosch, entre outras. O hub conta com duas modalidades de serviços para startups que buscam por um espaço para trabalhar: mesas compartilhadas com outros empreendedores e salas privativas.
Condor Connect: da aceleradora às gôndolas
Levar inovação para o varejo por meio de empresas disruptivas e ágeis. Esse é o propósito do Condor Connect. A unidade de negócio do supermercado Condor desenvolve programas de inovação aberta para empresas, acelerando startups e criando novos negócios. Conta com ambientes online e físico, em uma das sedes do Supermercado Condor no bairro Pinheirinho.
Já passaram pelo Condor Connect startups como Pocket Market, que leva mercados autônomos a espaços como condomínios e empresas. Ao todo fizeram parte da aceleração 80 startups de diversos segmentos. “Dentro do ecossistema levamos inovação para todos os fornecedores, aceleramos o crescimento de startups e criamos conteúdos certificados pela Universidade Federal do Paraná”, conforme explica Kauana Yrina, CEO do Condor Connect, que enfatiza o eixo de capacitação para que a solução incubada no espaço ganhe corpo e mercado.
Ao longo do programa de aceleração, com duração de um ano, a startup tem acesso a mentoria, assessoria jurídica e contábil, e pode testar suas ideias em operações do Condor. Os processos de apresentação de pitch, para seleção de novas startups, acontecem semanalmente. As empresas não pagam para participar do desenvolvimento e podem ter o supermercado e seus fornecedores como clientes, quando o negócio estiver estabelecido.
HIPE: inovação para o varejo
Inaugurado no fim de setembro, o HIPE é um centro de inovação para os varejistas que desejam melhorar seu posicionamento no mercado e potencializar o seu negócio de forma inovadora. Em um espaço colaborativo de 2 mil metros quadrados para 300 posições de trabalho, o HIPE está localizado no bairro Rebouças da capital paranaense e tem como patrocinadores a RP Info, especialista em sistemas para gestão e automação para o varejo, e a Siga Cred, administradora de serviços financeiros.
A estrutura do HIPE SPACE conta com salas privativas, espaço aberto para trabalho, salas de reunião, ambientes de descompressão e para eventos. O local conta ainda com cozinha compartilhada, espaço externo de convivência, espaço para happy hour, bicicletário e estacionamento para visitantes. O centro de inovação conta também com o laboratório virtual HIPE Lab, um simulador de supermercado com ambiente de aproximadamente 500m², funcionando como um laboratório para pesquisas realizadas com o consumidor e estudos realizados por profissionais do mercado, varejistas, consultores e membros do universo acadêmico, unidos para trazer informações de relevância para o varejo mundial.
O HIPE tem como missão conectar vários players, contribuindo de forma ativa para que o varejo brasileiro se potencialize e se adapte no ritmo da tecnologia e da inovação. O espaço colaborativo oferece diversos programas de desenvolvimento empreendedor que auxiliam desde a ideia até a expansão do negócio, ou seja, em todas as etapas que envolvem: estruturação, validação, prototipação e implementação. Os editais de pré-incubação são gratuitos, e todos que tiverem uma ideia para o varejo podem participar.
Hotmilk: da universidade à escalada
A Hotmilk é o ecossistema de inovação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Nasceu de um movimento da universidade rumo à inovação, que iniciou em 2008. O hub foi estabelecido no formato conhecido hoje no ano de 2015, e, de lá para cá, já acelerou 215 negócios.
O hub conta com espaço físico que reúne 40 startups e corporações, como Siemens e Nokia, instaladas em 6,3 mil metros quadrados. O objetivo do Hotmilk é que no final de 2022 o espaço passe a comportar 60 empresas. As startups que passam a integrar o espaço são selecionadas através de um edital de chamamento e uma série de critérios, para que possam fazer parte do hub. Um edital de seleção de novas startups é aberto a cada semestre.
Para Fernando Luciano, diretor da Hotmilk, o objetivo do espaço é levar a inovação aberta de forma democrática. “Inovação aberta para todos é a nossa grande missão. Para que a inovação aconteça de fato colocamos na mesma conversa startups, grandes empresas, academia, governo e sociedade para que novos negócios sejam desenvolvidos”, descreve.
Impact Hub: rede global de empreendedores
O Impact Hub é uma rede global de empreendedores sociais e inovadores apoiados por espaços colaborativos e programas de capacitação que inspiram, conectam e geram impacto. A iniciativa nasceu em Londres, em 2006, com a proposta de criar um espaço de trabalho colaborativo para pessoas interessadas em promover grandes transformações. Desde então, essa ideia cresceu e se espalhou pelo mundo e hoje está presente em mais de 110 localidades, contando com mais de 16 mil membros nos cinco continentes.
A história na capital paranaense começou no ano de 2011 com o objetivo de incentivar a inovação social, o empreendedorismo e a comunidade a realizarem mudanças significativas e transformar a sociedade. Com a sede localizada na Fábrika em Curitiba, o hub promove o engajamento de agentes de transformação seguindo como base cinco pilares: ambiente, comunidade, educação, inspiração e sustentabilidade.
Com uma filosofia “Locally rooted, globally connected” - raízes locais, conexão global, em tradução livre -, o Impact Hub conecta soluções locais que visam o impacto social com parceiros, patrocinadores, fundações e ONGs internacionais, por meio de programas de capacitação e aceleração de startups por meio de editais. Entre os projetos em andamento pelo Impact Hub de Curitiba estão iniciativas voltadas para o empreendedorismo de baixa renda, a capacitação de pessoas LGBTQIA+ para o ecossistema de inovação e um programa para startups focadas em soluções ambientais para a Mata Atlântica.
Segundo o diretor local Marcos Tadeu Schwartz, o Impact Hub de Curitiba foge um pouco do modelo de coworking e de cobrança por prestação de serviços. O foco do hub está na geração de programas para startups, seja por meio de editais ou através da criação de projetos e busca por patrocinadores, caso não exista uma solução no mercado. Por ano, cerca de 20 startups são capacitadas pelo hub. Para Marcos, a questão de financiamento para programas e capacitação é a maior dificuldade do ecossistema de inovação no momento: “Há um otimismo conservador, nada eufórico, para o ano que vem”, enquanto a economia mundial ainda se recupera dos impactos da pandemia.
Gazz para Hubs
As trocas entre hubs, startups e corporações tornam o ecossistema cada vez mais rico. Olhando para 2022 e entendendo a importância da capacitação e especialização, a missão do GazzConecta é se conectar a hubs de inovação, tendo em vista que a disrupção acontece, de fato, quando criamos juntos.
No próximo ano, o objetivo da plataforma de inovação da PinÓ é levar informação e promover cada vez mais a conexão entre hubs, startups, habitats e aceleradoras por meio de diversos canais online e offline, seguindo uma tendência de crescimento conjunto.