Tendências de negócios
Grandes empresas criam centros de inovação para diversificar e enfrentar a crise
Rever o orçamento e enxugar gastos não são as únicas estratégias adotadas por grandes empresas durante momentos de crise. Para diversificar produtos, serviços e criar soluções inovadoras dentro de casa, companhias de diversos setores — inclusive alguns tradicionais — estão lançando centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) próximos à sede ou a universidades renomadas do país. É o caso de gigantes como MRV, Santander, IBM e Grupo Tacla.
Em junho, a MRV lançou seu primeiro centro de P&D em Belo Horizonte (MG), sede da construtora, para desenvolver novas tecnologias, métodos construtivos e testar materiais, em parceria com o Centro de Inovação e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). “Não queremos esperar novas tecnologias chegarem até a gente, queremos criá-las. Em momentos difíceis, a gente sai fortalecido”, afirma Flávio Vidal, gestor executivo de inovação da MRV.
Segundo o executivo, a construtora investiu R$ 250 milhões em inovação nos últimos cinco anos e prevê investir mais de R$ 1 milhão nos próximos 36 meses no novo centro de pesquisa de desenvolvimento, tanto em pesquisa, espaço físico e contratação de pessoas. Também estão no foco do projeto novas tecnologias e serviços que vão além da construção civil, como pós entrega e métodos construtivos, adiantou Vidal.
“Estamos antenados com o futuro. Queremos oferecer novos povos produtos residenciais, como piscinas, salão de festas e estruturas de contenção. Há várias empresas e startups repensando o setor como um todo no mundo, desde a construção como um lego, até a ela dentro de uma fábrica”, explica o gestor de inovação.
Na mesma toada, o Santander anunciou no mês passado que vai inaugurar esse trimestre um novo centro de P&D no Onovolab, polo de inovação de São Carlos, interior de São Paulo, o segundo do banco no país — o primeiro está localizado na capital paulista. O espaço vai empregar 300 pessoas, principalmente desenvolvedores, e terá como objetivo acelerar a evolução do banco no segmento digital.
De acordo com o banco, o centro vai desenvolver quatro plataformas de atendimento: web, mobile, big data (processamento de dados dos clientes) e inteligência artificial. Para isso, vai firmar parcerias com universidades da região e realizar hackathons com estudantes e profissionais de tecnologia.
“Esse é mais um passo da nossa busca incessante por um ecossistema digital cada vez mais eficiente, ágil e seguro. E para chegar lá, precisamos trabalhar com os melhores profissionais da área de tecnologia do país”, reforça Ede Viani, vice-presidente de tecnologia e operações do Santander Brasil.
Criado há pouco mais de dois anos, o Onovolab abriga cerca de 70 empresas de diferentes portes, principalmente startups, em uma antiga fábrica de tecidos de 21 mil metros quadrados.
“Transformamos esse espaço em uma fábrica de inovação, onde 450 especialistas já estão em atividade. Com o Santander, iniciamos uma parceria que contribui para acelerar o nosso crescimento e nos consolidar como um polo nacional de tecnologia.”, relata Anderson Criativo, CEO do ecossistema de inovação.
Centro de inovação virtual
Diferentemente da MRV e do Santander, o Grupo Tacla, que administra shoppings no Paraná, Santa Catarina e São Paulo, lançou um centro de inovação digital para o setor varejista. Chamado de Tacla Labs, o “laboratório” busca conectar os lojistas com o ecossistema de inovação.
Entre as iniciativas do projeto está a parceria com a Delivery Center, que integra lojas físicas, marketplaces, shoppings e entregadores, e promete ajudar os lojas na digitalização de estoque e venda em diversos canais. Além disso, com a ConectPlug, os visitantes dos shoppings podem realizar pedidos de comida aos restaurantes da praça de alimentação em totens espalhados pelos andares — sem precisar esperar na fila.
“Por meio da ciência de dados que vamos começar a ter diante dos variados projetos de inovação, vamos conhecer cada vez mais nosso consumidor para poder adaptar nossas estratégias para as mudanças contínuas do consumo”, explica Gustavo Tacla, diretor de inovação do Grupo Tacla Shopping.
Reinvenção de processos
Haja visto que a tecnologia é mandatória para a inovação, a IBM não ficou de fora dos lançamentos. Esta semana, a gigante de tecnologia anunciou seu maior centro cognitivo de transformação com inteligência artificial da América Latina na Colômbia — o oitavo na região. O objetivo é dar suporte a empresas de diversos setores — como financeiro, telecomunicações e energia —, em português, inglês e espanhol.
Segundo a norte-americana, o centro de transformação será responsável por reinventar, otimizar e gerenciar os processos e serviços corporativos para o cliente, por meio de análise de dados, nuvem, inteligência artificial, automação, blockchain e outras tecnologias disruptivas.
"Esta é uma das nossas apostas para a região em tecnologias disruptivas, talento e habilidades locais para a quarta revolução industrial. Em tempos tão desafiadores quanto os de Covid-19, o investimento em áreas como atendimento ao cliente e treinamento em novas habilidades é vital", pontua Ana Paula Assis, gerente geral da IBM América Latina.