Varejo
Franquias transferem lojas para ambiente digital para driblar crise do coronavírus
O fechamento de comércio e serviços não essenciais impactou diretamente as franquias, que representam, em média, 40% de todas as lojas de shoppings. Sem acesso direto ao público, as unidades registraram queda nas vendas em março e acúmulo de produtos em estoque. Em meio a um labirinto de difícil solução, algumas franquias decidiram levar suas lojas para as casas dos consumidores virtualmente, colocando em prática o bordão: “Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai à Maomé”.
Com 120 lojas de portas fechadas por conta da quarentena, Andrea Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi, se viu diante de um questionamento: como fazer os 60 franqueados registrarem algum faturamento neste período de crise sem que as unidades fossem abertas?
A solução ao desafio veio em acelerar o projeto de transformação digital que a franquia estava colocando em prática desde 2018: digitalizar cada loja física da marca, em um modelo chamado LFO (Loja Física Online).
“Nosso e-commerce não é mais uma rede, é nossa frente de loja. Estamos testando também um modelo de entrega expressa [em até três horas] com dez lojas e queremos estar com as 120 unidades cadastradas até início de maio”, explicou ela, que negocia parceria com startups de logística como a Loggi.
Segundo a empresária, o diferencial deste modelo para um e-commerce tradicional é que cada loja terá uma espécie de “mini-centro de distribuição” e será responsável por administrar seu próprio estoque fisicamente e virtualmente — de forma que o cliente compre apenas produtos disponíveis no estabelecimento escolhido.
“Nossas vendas online representavam cerca de 5% do faturamento e agora esperamos que cheguem a 10%. Não vamos mais ter o normal de antes, teremos um novo normal”, calculou Andrea.
Redução de lojas físicas
Na avaliação de André Friedheim, presidente da ABF (Associação Brasileira de Franchising), cerca de 10% das franquias serão afetadas pela crise e, como consequência, reduzirão a quantidade de lojas físicas. As dificuldades, pelo menos, unificaram a comunicação das empresas (omnicanalidade). “Franquias não são imunes à crise”, argumentou.
Decidido a fugir das estatísticas negativas do varejo, Rafael Moura, CEO da I Wanna Sleep, migrou suas 11 lojas franqueadas para a internet para chegar, enfim, à casa dos clientes — por meio da LFO. Com o modelo, cada franqueado da marca fica responsável por gerenciar seu e-commerce (dentro do site da franquia) e estoque virtual para continuar vendendo mesmo com a unidade física fechada.
“Ganhamos velocidade e vendemos produtos como se fosse uma pizza. Com a estratégia, os lojistas deixaram um faturamento zerado para ganhar 30% da média anterior à crise do coronavírus. Pretendemos manter e impulsionar essa mudança. Se conseguimos bons resultados agora, podemos aumentá-los após a crise”, avaliou Moura.