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Projetos selecionados vão contar com o apoio do Senai para desenvolver soluções de combate ao coronavírus.

Inovação a toque de caixa

Em 40 dias, empresas criam tecnologias que fazem a diferença contra coronavírus

Anderson Gonçalves
18/04/2020 11:00
Há aproximadamente um mês, quando o Brasil começava a sentir os efeitos da pandemia do novo coronavírus, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) lançou um desafio a empresas de todo o país: apresentar soluções que ajudassem a prevenir, diagnosticar e tratar a Covid-19 e fossem de aplicação imediata. Por meio de dois editais, foi disponibilizado um total de R$ 30 milhões para apoiar projetos que ajudem a combater o coronavírus e que produzam efeitos em um prazo de 40 dias.
O desafio foi aceito e, até aqui, a Missão Covid-19, como foram batizados os editais, já selecionou 15 projetos contemplando as mais diversas soluções: uso da inteligência artificial para controlar a propagação da doença, produção de testes rápidos de detecção do vírus, ampliação do número de respiradores, desenvolvimento de equipamentos de proteção individual (EPIs), entre outras. Eles receberão R$ 19 milhões, aportados pelo Senai, pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Restam ainda R$ 11 milhões para outros projetos que serão anunciados nos próximos dias.
Entre os projetos já selecionados está o da startup curitibana Hi Technologies, que está desenvolvendo testes capazes de diagnosticar a Covid-19 em 10 minutos. Na verdade, trata-se de uma adaptação da Hilab, solução criada pela empresa para realização de exames rápidos, disponível em farmácias de mais de 250 cidades brasileiras desde 2017.
“Com a ascensão do novo vírus, aplicamos e validamos o teste para a Covid-19. E, com o edital, conseguiremos aumentar a capacidade produtiva da Hilab e a escala de produção exponencialmente”, afirma o CEO da Hi Technologies, Marcus Figueiredo. Além do aporte financeiro, o Instituto Senai de Inovação em Eletroquímica está disponibilizando infraestrutura, mão de obra de pesquisadores e especialistas.
O exame funciona da seguinte maneira: após a coleta, a amostra é colocada em contato com os reagentes dentro de uma pequena cápsula, depositada dentro de um dispositivo que cabe na palma da mão. O dispositivo, então, cria uma “versão digital” da amostra que é transmitida instantaneamente via internet para a equipe de biomédicos em um laboratório físico, onde especialistas, que contam o auxílio de algoritmos de Inteligência Artificial própria, vão emitir um laudo em questão de minutos. O paciente recebe o resultado no smartphone via SMS ou email. “Conseguiremos ampliar o acesso aos exames para mais hospitais e governos e, consequentemente, mais pessoas”, destaca Marcus. A previsão é entregar 450 mil testes no prazo de três meses.

Higienização por raios UV

Entre os serviços que não podem ser paralisados durante a pandemia está o transporte coletivo. Mas, ao mesmo tempo que é necessário, também é um poderoso vetor do coronavírus, dado o grande número de pessoas em circulação e o contato direto com suas estruturas. Em razão disso, a higienização dos veículos que fazem esse serviço é fundamental, não apenas neste momento, mas daqui para frente, a fim de diminuir os riscos de contaminação.
Pensando nisso, a startup Sii Indústria e Tecnologia, de Belo Horizonte (MG), apresentou ao Senai um projeto para esterilização de ônibus e metrôs por UVC 254, ou seja, utilizando raios ultravioleta. “Não se trata de nenhuma invenção, é algo já comprovadamente eficiente. Dentro da necessidade de esterilizar espaços de uso comum e de a população usar o transporte público com segurança, vimos a possibilidade de adaptar essa tecnologia com a qual já trabalhamos”, explica Felipe Almeida, CEO da empresa.
De acordo com ele, a higienização por UV traz uma série de vantagens em relação ao procedimento tradicional. Uma delas é o tempo: de 40 minutos, em média, que leva para desinfectar um veículo, é possível realizar o processo em menos de 15. “Além disso, para fazer a limpeza geralmente são necessárias até três pessoas, devidamente equipadas e que ficam expostas aos componentes químicos. O nosso sistema coloca o equipamento dentro do ônibus, esteriliza por completo sem a necessidade de ninguém operando”, destaca Felipe. Isso também permite uma quantidade maior de desinfecções, que podem ser feitas pelo próprio motorista nos intervalos entre as viagens.

Diagnóstico rápido e novos equipamentos

A MDI Indústria e Comércio de Equipamentos, de Lauro de Freitas (BA), teve dois projetos aprovados. O primeiro visa desenvolver um monitor de capnografia autônomo de fácil manuseio e portabilidade para acompanhamento e diagnóstico rápido de pacientes com deficiência pulmonar. Os capnógrafos analisam e registram a pressão de gás carbônico expirado pelo paciente, o que pode ajudar os médicos na correta aferição da função pulmonar, podendo liberar leitos mais cedo ou identificar pacientes que necessitem de apoio ventilatório urgente.
Já o segundo vai desenvolver teste “padrão ouro” recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo qual é possível identificar, em tempo real, a presença do coronavírus em amostras coletadas em Swab de material oral (garganta) ou nasal. A estimativa é processar 200 testes por dia, totalizando 1,2 mil testes semanais e 4,8 mil testes mensais.
Outro projeto, da Repsol, pretende criar um ambiente de supercomputação e inteligência artificial para dar apoio ao desenvolvimento e operação de soluções nas áreas de ciências biológicas, exames de imagem e predição de comportamento da pandemia. O projeto também vai desenvolver uma ferramenta computacional de apoio ao diagnóstico de exames de imagem para identificação do vírus, entre outras iniciativas.
A empresa JGB Equipamentos de Segurança, de São Jerônimo (RS), foi escolhida com a proposta de produção de máscaras cirúrgicas, máscaras PFF2, aventais cirúrgicos, campos cirúrgicos, toucas e sapatilhas descartáveis em escala industrial de forma mais rápida e barata. Já a Diklatex Industrial Têxtil, de Joinville (SC), vai produzir lotes pilotos de itens hospitalares têxteis com funcionalização antiviral, com possibilidade de reuso.

Mais respiradores e álcool em gel

Na proposta da Cerdia Brasil Indústria e Comércio, de Santo André (SP), os objetivos são: produzir 300 filtros do tipo HEPA em caráter emergencial em um prazo de 40 dias, para atender os ventiladores mecânicos que estão aguardando a importação e aqueles que terão a validade vencida; e produzir 200 filtros do tipo para HEPA em até três meses de forma a permitir um estoque de emergência. Outra empresa, a Rio Paraná Energia, vai desenvolver e implementar duas alternativas de testes sorológicos para a detecção do novo coronavírus.
O projeto selecionado da empresa Adecoagro Vale do Ivinhema pretende criar, com apoio do Senai, uma rede de apoio técnico-científico e financeiro à produção de álcool em gel no Brasil, tendo entre os objetivos aumentar a capacidade de produção de álcool em gel 70% no país. Já a proposta da Scienco Biotech, de Lages (SC), prevê o desenvolvimento de novas moléculas para a detecção do vírus e desenvolvimento de uma formulação/dispositivo sinalizador, para detecção de SARS-CoV2 em superfícies, pacientes e/ou aerossóis.
A Aredes Equipamentos Hospitalares, com apoio do Instituto Senai de Inovação em Sistemas de Manufatura (SC), vai adaptar respiradores mecânicos utilizados na área veterinária para uso em seres humanos. De São Bernardo do Campo (SP), a Novitech Equipamentos Médicos, pretende ampliar a cadeia de suprimento dos construtores de respiradores pulmonares, identificando gargalos, desenvolver novos fornecedores de componentes e propondo alternativas de processo de fabricação desses componentes.

Manutenção

Outro trabalho coordenado pelo Senai no combate ao coronavírus foi a formação de uma rede voluntária para manutenção de respiradores hospitalares. A iniciativa, intitulada + Manutenção de Respiradores, conta com a participação do próprio Senai, grandes indústrias e instituições, e busca ampliar o número disponível desses aparelhos, essenciais no tratamento de pacientes graves da Covid-19. Desde que começou a funcionar, no fim de março, a rede recebeu mais de 600 aparelhos. Estima-se que, em todo o Brasil, há cerca de 3,6 mil respiradores fora de operação.

Tecpar

O Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) também está com um edital aberto para projetos com foco no enfrentamento da pandemia do coronavírus. Além da área de saúde, a Incubadora Tecnológica pode receber projetos multidisciplinares de base tecnológica, com 16 vagas previstas. Para participar do processo seletivo o empreendedor deve submeter, até o dia 30 de abril, seu Plano de Negócios à avaliação de uma banca julgadora – a última fase do edital pode ser acessada até outubro. Os interessados em participar podem acessar o edital pelo site da Intec ou obter mais informações pelo telefone (41) 3316-3176.