Entrevista
“Diversidade é prosperidade”, esclarece consultora empresarial Ana Minuto
pessoas que o exercem ao seu lado. Quantas delas são negras? As que são, desempenham
quais funções? Elas ganham proporcionalmente ao trabalho que fazem? Quantas
delas ascenderam de cargo?
"Uma coisa que eu aprendi com minha mãe e com minha vida é que precisamos estar onde faz sentido, onde gostamos de estar e onde podemos entregar nosso melhor”, disse. “Eu percebi o desafio que a população negra tinha no mercado de trabalho e a pergunta que eu sempre fazia era ‘por que que nós somos tão potentes e não conseguimos ir para o próximo nível?’”, completa.

funciona?
incomodava muito e eu comecei a perceber que o processo do racismo adoece a
gente, que ele limita nosso poder de alcance de visão para conseguir e
conquistar as coisas, mas que era
algo que nós precisávamos aprender a ressignificar. A primeira ressignificação
deve ser sobre nosso valor como seres humanos, como pessoas que merecem um bom
trabalho e bons salários. A partir daí eu comecei a criar exercícios que
levavam em consideração essa realidade.
com o conhecimento do indivíduo porque o indivíduo forte consegue dar conte do
ambiente onde ele está, mesmo que seja um ambiente adoecido, mas o indivíduo
adoecido, dentro do ambiente adoecido, vai piorar. Quando a pessoa pensa que precisa
desenvolver uma carreira e que ela não envolve só trabalho, ela enxerga uma
nova realidade e novas possibilidades.
Brasil passou 74% do seu tempo sob regime escravocrata e a gente percebe como
isso influenciou o atual momento, quais são as condições e os pontos de partida
das pessoas que vieram desse sistema?
acreditar na meritocracia, de achar que eu não falo inglês porque eu não quero
realmente falar. Ou que você fala inglês porque quis, mesmo que tenhamos
partido de lugares diferentes e pertençamos a fatias diferentes da sociedade.
do racismo. Nós ainda estamos nessa negação, acreditando que somos todos
iguais. Mas daí quando vamos buscar um emprego, nós não estamos lá, e se
estamos, nós, mulheres pretas, ganhamos 60% a menos do que o homem branco na
mesma atividade.
estereótipos que as mulheres negras, uma vez contratadas, têm que ajudar a
desmistificar enquanto exercem suas carreiras?
negra só serve para ser empregada doméstica, o que não tem problema nenhum,
desde que ela possa escolher se quer ser empregada doméstica ou qualquer outra
coisa. Esses vieses internos e externos dificultam a nossa ação.
em um país machista que acredita realmente que a mulher não merece estar no
próximo nível. Existem mulheres que são brilhantes, mas passam 10-20 anos na
mesma profissão, fazendo a mesma coisa. Isso quando não pedem para você servir
o cafezinho, ou para você fazer a ata; ou quando não te interrompem para pegar
sua ideia; ou simplesmente quando não deixam você se posicionar.
acontecem em relação à mulher preta, sem falar que nós dificilmente chegamos às
grandes corporações, por questões de mobilidade e, quando chegamos, temos
dificuldade de avançar para o próximo nível porque isso exige tempo e
possibilidade financeira para estudar – coisas que muitas de nós não temos.
racial significa para o futuro do mercado?
não colocar as mulheres, os lgbtquia+, pessoas idosas e com deficiência nesses
espaços, as empresas de parte tecnológica terão um problema seríssimo para dar
continuidade. Então, quando a gente fala de diversidade, a gente está falando
minimamente de trazer mais pessoas para a roda para que as empresas possam se
manter.
disseminação do conhecimento e para o fortalecimento do autoconhecimento das
pessoas?
de nós para nós porque quando eu pensei nele, eu não pensei nele para a
população negra; eu pensei nele para as pessoas e ponto final. As pessoas
precisam entender minimamente o que é a questão racial, como ela influencia e
como cada um de nós tem esse viés que faz com que a gente repita ações,
pensamentos e sentimentos racistas.
das questões escravocratas, onde a gente nunca falou que o homem preto e a
mulher preta têm condições de ser diretor. A gente tem no nosso imaginário que
a gente só pode ser parte do setor operacional. Eu me lembro de quando
trabalhava na área de tecnologia, eu conversava com alguém por horas numa
reunião por ligação e daí, quando a pessoa me via, ela falava “nossa, eu não
imaginava que você fosse assim”.
pessoas pretas para falar de assuntos diferentes do que se está habituado, se
está criando um novo viés: estamos criando novas formas de rever pessoas
pretas; estamos demonstrando que nós também criamos, que nós também temos
empresas, que nós também podemos virar diretoria. E é esse processo de falar
mais sobre o assunto que vai gerando novas ideias e novos conhecimentos.
trazer esse evento, com todos os grandes patrocinadores que estão acreditando
na causa, a gente está minimamente mandando um sinal para a sociedade de que
precisamos fazer diferente.