Entrevista
De fashiontech para empresa de lifestyle: o novo modelo de negócio da Amaro
A Amaro anunciou para o mercado brasileiro, neste mês, que é mais do que a já conhecida varejista de roupas e calçados femininos. O endereço Amaro.com é agora "um destino ainda mais prazeroso, relevante, clean e com uma curadoria de marcas impecável, que vai além da moda". A aspas é do CEO da companhia, o empresário Dominique Oliver.
A empresa, que nasceu como uma fashiontech - uma startup de tecnologia com foco em moda -, há nove anos, neste novo modelo de negócios torna-se uma marca de lifestyle. "Estamos sendo muito bem recebidos porque nosso novo posicionamento tem muito a ver com o momento em que vivemos", explica Oliver.
Entraram no portfólio da Amaro, com a nova reformulação, itens de beleza, bem-estar, casa e decoração e papelaria. A Amaro tem, atualmente, dez mil produtos cadastrados em sua loja online.
"A nossa cliente quer tomar decisões sustentáveis no seu dia a dia, mas nem sempre isso é fácil ou prático, porque precisa pesquisa. Então, a gente serve às nossas clientes com essa curadoria", destaca Dominique.
E há ainda mais números de fôlego que salientam a expansão. Mesmo em meio a crise econômica advinda da pandemia do novo coronavírus, a companhia cresceu, em 2020, 56% em novos compradores. E espera incrementar em 50% o seu faturamento até o final deste ano. Sobre as marcas parceiras do portfólio, 150 cadastradas no momento, pretende fechar 2021 com o dobro, ou seja, 300 marcas curadas pelo olhar rigoroso da companhia.
"Hoje, todas as experiências com a Amaro são pensadas totalmente para telas de smartphones. Queremos associar o prazer de descobrir produtos - em formatos agradáveis, fotos lindas, descrições informativas, avaliações de clientes -, com a compra transacional com dois cliques", esclareceu Oliver.
Oliver é suíço, mas mora no Brasil há oito anos. O GazzConecta conversou com o CEO sobre o mercado, inovação, desafios e o novo posicionamento da Amaro. Leia a entrevista completa abaixo.
Dominique, você tem uma trajetória profissional em bancos internacionais. Quando decidiu investir no Brasil?
Eu sou suíço, de Zurique. Nasci e morei lá até os meus vinte anos. A minha família segue lá. Depois, fui estudar nos Estados Unidos e na Inglaterra. Fiz estágios durante a faculdade em bancos de investimentos até, finalmente, trabalhar em Nova York, com fusões e aquisições de empresas e também reestruturações de grandes varejistas. Foi uma escola, porque consegui ter muito contato com as lideranças destas empresas e entender os modelos de negócio. Isso foi em 2012, quando os Estados Unidos enfrentava uma grande crise financeira, então os varejistas estavam com problemas, mas já era possível ver o impacto que os e-commerces teriam no consumo.
Na época eu já conhecia o Brasil, gostava muito do país, da cultura, das pessoas e resolvi me mudar. Fiz aqui um MBA, em São Paulo, e com o intuito de explorar o mercado emergente e ter uma experiência diferente, acabei ficando.
O que é inovação para você e de que forma você aplica nos seus negócios?
Inovação para mim está vinculada ao senso de resolver uma dor, um problema que existe, e fazer melhor. O conceito está, hoje, muito ligado ao digital, à tecnologia, mas vai além, se manifesta de muitas maneiras.
Melhorar uma experiência, um serviço, um produto, deixar ele mais inteligente, é inovação. Também tem muito a ver com criatividade. Na Amaro, além de focarmos em tecnologia, valorizamos o fato de sermos criativos na metodologia de resolvermos problemas.
Qual problema a Amaro resolve?
A Amaro começou a resolver um problema há oito anos atrás, para quem queria comprar produtos de moda com um preço justo e no formato mais conveniente possível. E isso envolve muita coisa: produto, preço e informação de moda.
Fizemos isso através de um modelo de negócio mais inteligente, fazendo a desintermediação da cadeia tradicional do varejo. Já sem os intermediários, digitalizamos todo o processo, nos comunicando diretamente com o cliente. Sempre buscamos garantir a melhor experiência de compra, da entrega até devolução - se necessária.
Quem é o público da Amaro hoje?
O nosso público engloba mulheres de 20 a 50 anos que são digitalmente empoderadas - gostam de descobrir novidades e comprar online.
A UX (User Experience) na Amaro é apontada, regularmente, como um diferencial da marca. Pode comentar como ela é pensada?
Desde o início investimos muito em nossa plataforma de e-commerce e nas facilidades de compra. Também muito na compra focado no mobile, isso há seis anos atrás. Hoje, todas as experiências com a Amaro são pensadas totalmente para telas de smartphones. Queremos associar o prazer de descobrir produtos - em formatos agradáveis, fotos lindas, descrições informativas, avaliações de clientes - com a compra transacional, com dois cliques. Tudo isso cria uma experiência muito assertiva e conseguirmos nos tornar relevante na vida do cliente, sem ruídos.
O plano de expansão da Amaro está sendo pensado há dois anos. De que forma a pandemia do novo coronavírus influenciou as decisões de mudança?
A pandemia é uma grande incerteza para todo mundo, inclusive, para a Amaro. No nosso caso, já estávamos preparados, de certa forma, por sermos digitalmente nativos. E crescemos no ano passado.
De fato, moda não é a categoria que tem mais relevância se todo mundo está em casa. E nós já estávamos pensando em como seria ter uma extensão das nossas categorias, ainda dentro do universo feminino. Foi quando decidimos lançar a Amaro como uma empresa de lifestyle, o que tem tudo a ver com o momento em que vivemos.
Outro ponto é a parceria com novas marcas que fizemos para esse lançamento, de ajuda mútua. No caso delas, seus canais de vendas, 100% presenciais, estavam completamente fechados. Conseguimos bolar algo muito rápido, no ritmo de startup e, em poucas semanas, lançamos um MVP [Mínimo Produto Viável] e avançamos. Nosso plano é ter 300 marcas até dezembro deste ano.
Com a expansão, o que a Amaro oferece?
Moda, que já conhecemos bem; beleza; bem-estar e casa.
Bem-estar, que talvez precise de mais explicação, são produtos ingeríveis, como vitaminas, chás, cafés de performance, suplementos e tudo o que tem a ver com o mundo da saúde.
Faltava um destino onde a nossa cliente comprasse tudo, com um único login. A Amaro é esse destino.
Sobre a curadoria das marcas parceiras, o que é levado em conta na hora de selecionar?
Quando começamos, pensando em quais marcas convidaríamos, não era algo super estruturado como temos hoje. Então, abordamos primeiro as marcas que a nossa equipe estava consumindo e gostavam muito. Foi uma coisa muito orgânica. Temos uma equipe de 450 pessoas e muitos deles são plugados em um mundo de consumo, mas de consumo consciente. São marcas queridas por nossos colaboradores.
De maneira geral, elas têm relevância cultural, têm propósito, uma mensagem, uma causa, é mais que o produto por si só. Isso significa que ela tem mais influência, mais facilidade em atrair clientes e chamar a atenção. Também, como são pequenas, possuem o marketing de boca a boca, o que é valioso. Elas também são sustentáveis e inclusivas, têm produtos de qualidade e com preço justo.
A nossa cliente quer tomar decisões sustentáveis no seu dia a dia, mas nem sempre isso é fácil ou prático, porque precisa de pesquisa. Então, a gente serve as nossas clientes com essa curadoria.
Dentro da categoria de bem-estar está também o de sextech. Pode comentar sobre a novidade? Por ser menos explorado, é uma oportunidade para a Amaro comunicar diferente. Certo?
Começamos a pensar sobre esse mercado de bem-estar sexual no ano passado, fazendo pesquisas. A nossa leitura é que todo mundo quer comprar os produtos, muitas pessoas já usam, mas há uma dinâmica muito esquisita porque o assunto ainda é um tabu. Não há um grande varejista fazendo um trabalho bem feito neste nicho, com uma comunicação interessante, feminina, leve, divertida. Até mesmo para tirar essa imagem do sex shop escondido e trazer isso para frente.
A Amaro sempre foi uma marca que pensa no empoderamento feminino, que levanta bandeiras. Essa é mais uma maneira da gente melhorar a vida das nossas clientes e fazer isso com uma comunicação super fresh e atual.
Como você enxerga o futuro do varejo?
É online e disso não tenho nenhuma dúvida. Os espaços físicos continuam tendo um papel importante, mas muito voltado a descobertas de marcas e produtos com experiências de prova e teste.
Por isso temos os guides shops Amaro, que são espaços de experiências.
A Amaro não se define como um marketplace. Como classifica o serviço?
Vendemos marcas com propósito e temos uma experiência diferenciada de compra. O cliente adquire da Amaro, não há outros sellers no processo.
A nossa expectativa é que a Amaro seja o destino mais relevantes para se comprar de lifestyle para mulheres. Esperamos um futuro muito mais clean e prazeroso.