Especial ODS
Contra o desperdício e a favor do planeta: startup Raízs usa tecnologia para popularizar alimentos orgânicos e fomentar a agricultura familiar
Nesta série de reportagens, conheça startups que estão usando tecnologia para solucionar os principais problemas da humanidade e cumprir as metas de desenvolvimento sustentável da ONU.
A tecnologia tem sido adotada em larga escala por um número crescente de empresas que desejam transformar o uso intensivo de dados em algo palpável e, na ponta, capaz de agregar valor à sociedade e trazer benefícios ao planeta. A startup Raízs é uma delas. Fruto dos esforços empreendedores do consultor em sustentabilidade Tomás Abrahao, a startup fundada em 2016 tenta casar o uso de algoritmos à popularização dos alimentos orgânicos no país e, na ponta, favorecer modelos de agricultura familiar.
O propósito da Raízs, desde o início, é o de conectar pequenos agricultores de produtos orgânicos aos consumidores finais nas grandes cidades. A ideia vem da percepção de Abrahao de que os caminhos embaraçados percorridos pelos alimentos do campo até a mesa — e a ausência de dados de monitoramento de todo esse processo — muitas vezes dificultavam a acesso a alimentos orgânicos nas cidades, até mesmo para consumidores que já expressaram interesse em produtos mais "saudáveis".
Com imbróglios logísticos jogando o preço de legumes, frutas e laticínios nas alturas, não é comum identificar consumidores que optam por pagar preços mais salgados para ter acesso a alimentos orgânicos, especialmente em tempos de redução do poder de consumo. A Raízs pretende inverter essa lógica. Com uma plataforma digital, a Raízs permite que agricultores ofertem seus produtos e consumidores os adquiram em cestas contratadas em planos de recorrência, sejam eles mensais ou quinzenais.
“Minha mãe sempre teve uma relação muito especial com a comida, e nos incentiva sempre a entender de onde vinham os alimentos que consumimos e o que estávamos incentivando ao comprar aquilo”, conta o fundador e CEO da startup. "Fazia muito sentido para mim usar meu conhecimento em sustentabilidade para mudar uma cadeia que eu já conhecia. Queria trabalhar com comida e mudar a maneira como a indústria alimentar funciona”, diz.
A empresa fica a cargo de toda a logística, incluindo a coleta dos produtos no campo e entrega ao comprador final. Atualmente, a startup conta com mais de 200 funcionários e 80 mil clientes. Do lado dos agricultores, já são mais de mil famílias utilizando a plataforma para vender seus produtos. A empresa atua no estado de São Paulo e, para agricultores, já está em todos os estados, com exceção do Amapá.
Combate ao desperdício
Segundo Abrahao, a Raízs também coopera para a redução do desperdício alimentar, já que utiliza inteligência preditiva para auxiliar agricultores a definirem a quantidade certa do plantio com base em indicadores como sazonalidades dos produtos e demanda por parte dos consumidores. “É como afirmar que só será retirado do solo aquilo que efetivamente será consumido”, explica o empreendedor.
Em boa medida, a tecnologia também coopera para a redução do desperdício de alimentos graças a um giro de estoque de, no máximo, três dias para os mais de 2.800 produtos oferecidos pela startup. “Conseguimos monitorar quando um agricultor prevê colher determinado produto e preparar a nossa logística. Assim, colocamos um produto à venda rapidamente e já o entregamos, sem aquele tempo ocioso que algo costuma existir nas gôndolas de supermercados”, diz.
Segundo Abrahao, a taxa de desperdício da Raízs é de 2%, enquanto a média do mercado gira em torno de 33%.
Rumo à Agenda 2030
A Raízs, como empresa de impacto, está diretamente ligada aos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU, uma espécie de cartela que determina as grandes metas almejadas para a próxima década do ponto de vista social e ambiental.
O principal deles, para a startup, é o ODS número 12, que incentiva o consumo e a produção responsáveis. Entre as metas para esse objetivo, está reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial, e também reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita, até 2030.
O plantio e colheita sincronizados aos comportamentos de compra dos clientes e as entregas ágeis fazem da Raízs um case bem-sucedido de empresa dedicada a fomentar a Agenda 2030 e o combate ativo ao desperdício alimentar. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), cerca de 14% dos alimentos produzidos no mundo são perdidos entre a colheita e o transporte por falta de tecnologias integrativas.
Nesse cenário, a proposta da Raíz já atraiu investidores. São eles os fundos Solum e KPTL que, juntos, aportaram R$ 20 milhões na startup em 2022. Os empresários Donato Ramos, ex-CEO do Mundo Verde; Marcelo Bazzali, ex-diretor do GPA e CEO da Extrafarma; Pedro Navio e Antonia Teixeira também são investidores da empresa.