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Renata (ao centro) é a idealizadora da plataforma, que busca facilitar a integração de PCDs ao mercado de trabalho. Crédito: divulgação.

Oportunidades a pessoas com deficiência

Conectando Oportunidades quer facilitar inserção de PCDs no mercado de trabalho

Bruno Raphael Müller
Bruno Raphael Müller
24/07/2025 13:41
A startup Conectando Oportunidades desenvolveu uma plataforma para conectar pessoas com deficiência (PCDs) a empresas. A ferramenta busca otimizar o processo de contratação e promover a inclusão no ambiente corporativo. O projeto está em fase de prototipagem funcional.
O Brasil tem aproximadamente 18,6 milhões de PCDs, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2022, o que representa 8,9% da população a partir dos 2 anos de idade. Desse total, apenas 26,6% tem alguma ocupação profissional, enquanto o índice do restante da população que atua no mercado de trabalho é de 60,7%.
Desenvolvimento e acessibilidade
O desenvolvimento tecnológico da plataforma prioriza a acessibilidade. Renata Giovanini, idealizadora da Conectando Oportunidades, indica que os desafios estão sendo mapeados com profissionais de acessibilidade e potenciais usuários. "Como ainda estamos na fase de prototipagem funcional, os desafios estão sendo mapeados em conjunto com profissionais da área de acessibilidade e potenciais usuários. Nosso foco é construir desde o início uma experiência inclusiva, considerando diferentes deficiências (visual, auditiva, motora, intelectual). O maior desafio tem sido equilibrar simplicidade na navegação com funcionalidades completas, sem comprometer a usabilidade. A validação com usuários reais acontecerá nas próximas etapas do projeto", afirma a idealizadora.
A segurança e privacidade dos dados são consideradas desde a fase de prototipagem. "O aplicativo ainda não está em operação, mas já estamos prevendo protocolos de segurança alinhados à LGPD. A arquitetura do protótipo inclui áreas com diferentes níveis de acesso, com previsão de criptografia para documentos sensíveis como laudos médicos. Nenhum dado será compartilhado com empresas sem o consentimento explícito do candidato", explica a gerente de Pessoas.
Preparação de empresas e "match"
A plataforma terá uma área para empresas com conteúdos e trilhas sobre inclusão. "O protótipo já contempla uma área exclusiva para empresas, com sugestões de conteúdos e trilhas sobre inclusão e acessibilidade. Esses materiais ainda serão desenvolvidos na fase seguinte, com curadoria especializada. A ideia é que, além de divulgar vagas, as empresas possam evoluir na sua jornada de inclusão com apoio direto da plataforma", diz Renata.
A idealizadora explica que o "match" da plataforma se diferencia dos processos tradicionais. "Mesmo em fase de protótipo, nossa proposta é promover um “match” mais humano e inclusivo. Diferente de filtros genéricos, o sistema cruzará dados como tipo de deficiência, acessibilidade necessária e compatibilidade cultural da empresa. Essas funcionalidades ainda estão em fase de concepção e serão testadas com usuários reais na próxima etapa", detalha a gerente de Pessoas.
Parcerias e mensuração de impacto
A startup planeja dialogar com instituições voltadas à empregabilidade de PCDs e consultorias em inclusão. "Ainda não formalizamos parcerias, mas já estamos em diálogo com instituições voltadas à empregabilidade de PCDs e consultorias em inclusão. A estratégia é construir um ecossistema de apoio em torno da plataforma, conectando capacitação, oportunidades e suporte técnico para empresas e candidatos", relata a idealizadora.
Ainda em desenvolvimento, a plataforma prevê o acompanhamento de métricas como número de "matches", contratações e tempo médio entre cadastro e contratação. "Como o aplicativo ainda está em desenvolvimento, as métricas ainda não estão em coleta. Porém, já prevemos o acompanhamento de indicadores como número de matches, contratações realizadas e tempo médio entre cadastro e contratação. A análise de dados será uma base importante para aprimorar continuamente o produto após o lançamento", afirma a gerente de Pessoas.
A idealizadora também comenta sobre as métricas de diversidade e inclusão. "Neste momento, ainda não há dados em operação. No entanto, o protótipo prevê a coleta de dados demográficos (tipo de deficiência, faixa etária, gênero, escolaridade e localização), tanto de candidatos quanto de empresas. Isso permitirá uma visão analítica futura para orientar ações de inclusão com base em evidências", aponta.
A plataforma prevê a coleta de dados sobre o tempo médio entre o cadastro do PCD e o "match". "Esse tipo de métrica será fundamental após o lançamento. O protótipo já está sendo desenhado com estrutura para rastrear esse tipo de jornada, permitindo ajustes finos em filtros e fluxos de uso conforme a taxa de sucesso e o tempo de resposta das empresas", explica Renata.
A idealizadora reforça que o sistema prevê o monitoramento de recortes demográficos. "O sistema prevê esse monitoramento em formato agregado, sempre respeitando a privacidade dos usuários. Os dados poderão ser compartilhados futuramente com parceiros institucionais, desde que com consentimento e com finalidade de promover ações de inclusão com base em evidências concretas", diz a idealizadora.
Experiência dos usuários e aprendizados
A startup acompanhará a satisfação de candidatos e empresas após a contratação. "Essa funcionalidade será desenvolvida após os primeiros testes do aplicativo em operação. A ideia é oferecer enquetes rápidas, espaço para relatos e questionários pós-contratação para empresas e candidatos. Esses feedbacks servirão como base para evolução contínua da plataforma", comenta a gerente de Pessoas.
Sobre os desafios na conversão de cadastros em contratações, a idealizadora afirma: "Ainda não temos esses dados, pois o aplicativo não foi lançado. No entanto, mapeamos como hipótese que os maiores desafios estarão na compatibilidade entre vagas e acessibilidade necessária. Por isso, a inteligência do match e a capacitação das empresas são prioridades já desde a fase de prototipagem".
Cenário nacional e obstáculos
Em 2024, o Brasil registrava 545,9 mil trabalhadores com deficiência formalmente empregados, segundo o eSocial. A participação de PCDs no mercado de trabalho é menor do que a de pessoas sem deficiência, indicando uma desigualdade. Em 2022, a taxa de participação de pessoas sem deficiência na força de trabalho era de 66,4%, enquanto para PCDs, o índice era de 28,3%.
Dados de São Paulo mostram saldo negativo de 12% entre contratações e demissões de PCDs entre 2020 e 2023. Mais de 120 mil PCDs foram demitidas e 108 mil foram contratadas no período.
A Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91) exige que empresas com 100 ou mais funcionários reservem vagas para PCDs. A porcentagem varia de 2% a 5%, dependendo do número total de empregados.
As empresas enfrentam desafios como barreiras de acessibilidade, falta de informação sobre inclusão e de profissionais qualificados. Para as PCDs, os obstáculos incluem preconceito, comunicação e baixa remuneração.
Metas e reconhecimento
A meta da startup para o primeiro ano de operação é conectar 500 PCDs a 50 empresas, gerando dados sobre empregabilidade e retenção.
O projeto foi premiado no Dia D, evento do Integrow – Ecossistema de Inovação e Empreendedorismo do Grupo Integrado. A gestora de Pessoas afirma: "Isso reforça a importância de acreditar em ideias que fazem a diferença na vida das pessoas e no mercado. Mais do que conectar candidatos e vagas, a missão é fomentar uma mudança cultural nas empresas e contribuir para ambientes de trabalho mais diversos, acessíveis e humanos".
A idealizadora também aborda os planos de expansão. "Neste momento, o projeto está concentrado no desenvolvimento do protótipo e nos testes iniciais. A médio prazo, o plano é validar o modelo em nível nacional, com foco nas regiões com maior número de pessoas com deficiência fora do mercado de trabalho. A longo prazo, vislumbramos a adaptação para outros países da América Latina que enfrentam desafios semelhantes", conclui a gestora de Pessoas.