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Juliana Pentagna Guimarães, diretora executiva do BS2.

Fintechs

Com R$ 1,4 bilhão em crédito, BS2 quer ser o banco digital da pequena empresa brasileira

Maria Clara Dias, especial para o GazzConecta
27/04/2023 19:57
A história recente do banco BS2 mostra que o grande contingente de pequenas empresas do Brasil é capaz de atrair e reconfigurar o modus operandi até mesmo das indústrias mais tradicionais. Prova disso é que a instituição com sede em Belo Horizonte, Minas Gerais, tem adotado decisões estratégicas ambiciosas depois de mais de 30 anos de sua fundação para poder dedicar-se exclusivamente a essas empresas de pequeno porte.
Fundado em 1992, o BS2 (antigo Banco Bonsucesso) lançou-se ao digital há pouco mais de cinco anos. Também passou a focar exclusivamente no público de pessoas jurídicas após anos de uma carteira robusta de crédito consignado e outras operações financeiras voltadas a pessoas físicas.
Ambas as decisões vieram na esteira de ações tomadas a partir da escuta ativa dos clientes e de uma análise aprofundada do mercado brasileiro, ainda carente de serviços financeiros quando o assunto são as companhias de pequeno porte, explica Juliana Pentagna Guimarães, diretora executiva do BS2. “Estamos decididos a ser uma plataforma completa para as empresas, na qual é possível ter acesso a todo tipo de serviço essencial para o dia a dia delas”, afirma ela que é responsável pelas áreas de Corporate Development, Relações com Investidores, Relações Institucionais, M&A e Marketing do banco.

Jornada de transformação

O Banco Bonsucesso começou, no princípio, como uma financeira monoproduto, até então dedicada apenas à oferta de linhas de crédito para financiamento de veículos. A oferta antecedia até mesmo o Plano Real, reforma econômica implementada em 1994.
O conjunto de medidas adotadas no ambiente macroeconômico após a reforma levou o Bonsucesso a ampliar suas soluções. O produto seguinte nesta jornada foi o crédito consignado, produto que foi responsável por 80% de todos os negócios do banco por mais de 10 anos.
A carteira diversa e estruturada nessa frente chamou a atenção da concorrência. Em 2015, 60% da operação de consignação do Bonsucesso foi vendida ao Santander. Cinco anos depois, o banco espanhol adquiriu os outros 40% restantes.
Com boa parte dos negócios fora da operação, o banco passou a buscar novos caminhos para uma reestruturação. "A única certeza que a gente tinha era que seríamos um banco digital a partir dali”, conta Juliana. Em 2018, foi lançado o banco digital, agora sob a roupagem de BS2.
Em busca de novos mercados para atuar, a tentativa foi por encontrar as próximas tendências que iriam pautar o mercado financeiro nos anos seguintes. Em busca de seus novos nichos de atuação, o BS2 mirou o mercado de câmbio. “Era um mercado com poucos players àquela época. Os grandes bancos não olhavam para os desembaraços nos pagamentos e recebimentos internacionais”, conta. “Fora isso, era um mercado puramente analógico. Entrar com a digitalização ali era uma grande oportunidade”.
A vertical nasceu com os adventos de uma conta internacional para pessoas físicas, conta digital e plataforma para investimentos.

Foco nas empresas

O oba-oba com o novo foco, porém, não durou muito. A instituição encarou desafios ligados à diferenciação em um mercado endereçável de milhões de pessoas. “Era um mercado imenso e tínhamos muitos clientes. Era muito difícil se diferenciar por ali”, explica a diretora.
Mas foi com a pandemia que a trajetória do BS2 mudou de vez. A quantidade de empresas obrigadas a fechar as portas diante da dificuldade de acessar linhas de crédito emergenciais e os percalços dessas companhias para migrar para o mundo digital inspiraram o banco a mudar o foco, passando a atender apenas empresas desde então.
À época, a operação de pessoas físicas do BS2 contava com mais de 1 milhão de clientes. Abrir mão disso dependeu, em boa medida, de reconhecer as oportunidades naquele nicho. “As fintechs com foco em PJ cresceram ao atender a dores pontuais no meio do caminho, com ofertas pontuais e muito direcionadas, como um cartão de crédito para compras internacionais, como produtos digitais, ou uma conta simplificada. Mas nenhuma delas oferecia tudo, já na configuração de um banco”, avalia a executiva.
Longe da oferta monoproduto, o BS2 pautou sua atuação em quatro diferentes pilares: câmbio, para pagamentos e recebimentos entre fronteiras; soluções de pagamentos como Pix, boletos e transferências, seguros e oferta de crédito — sendo essa última o principal foco do banco desde então. “Sabemos que a principal dor da pequena e média empresa hoje é o acesso ao crédito, e queremos ser atuantes nisso”.
Para dar tração a essa intenção, o BS2 adquiriu, em 2021, a fintech israelense de crédito Weel. Por meio da plataforma de inteligência de crédito digital da Wheel, diversos indicadores são analisados de forma automatizada com o intuito de oferecer linhas de crédito para pequenas empresas de maneira mais ágil. “Diferente de uma média empresa, que tem seu histórico ali na palma da mão com o banco, muitas vezes a pequena não tem muito a oferecer como garantia. Essa análise inteligente nos ajuda a entender melhor a vida financeira dos clientes”, explica.
Desde a aquisição, 100% do time da Weel passou a integrar o BS2. São, ao todo, 40 pessoas trabalhando em Israel, entre cientistas de dados, desenvolvedores e técnicos. O banco também conta com um escritório em São Paulo, Caxias do Sul e em Curitiba. Atualmente, o estado do Paraná é a terceira maior operação do banco no país.

Novas aquisições no radar?

Juliana também está hoje à frente de uma área chamada de "corporate development", que busca novas oportunidades de crescimento inorgânico, ou seja, operações de fusões e aquisições de empresas adjacentes (M&As).
O propósito é encontrar parceiros que possam ajudar o banco a ampliar seus canais ou leque de produtos, sempre com foco em vantagem competitiva. “Sabemos que esse universo de atendimento às PMEs é gigantesco. Precisamos nos diferenciar, seja com tecnologia desenvolvida dentro de casa, ou trazendo empresas que já nos ajudem a encurtar esse caminho com soluções prontas”.
Com um ano atuando com PJ, o banco tem 110 mil clientes, R$ 1,4 bilhão transacionados em sua carteira de crédito e mais de R$ 30 bilhões em operações de câmbio.
Para o futuro, o foco está na oferta de produtos e serviços para microempresas. “É um movimento que vai se fortalecer nos próximos anos”, diz. “Queremos ser o único banco digital completo para empresas do Brasil e, ao olhar para as microempresas, ajudar a reduzir a taxa de mortalidade e ser um parceiro digital para que elas prosperem”, conclui.