Moda no e-commerce
Grupos conhecidos pela rede física, como a Soma — dona das redes Farm e Animale —, estão ampliando suas apostas na venda pela web.
Se o mercado de moda precisava de um empurrão para abraçar de vez o e-commerce, esse incentivo veio com a pandemia. Por isso, grupos mais conhecidos pela rede física, como a Soma — dona das redes Farm e Animale —, estão ampliando suas apostas na venda pela web. Capitalizada após estrear na Bolsa, em operação em que captou R$ 1 bilhão, em julho, a companhia decidiu apostar suas fichas no crescimento online, tanto por ações criadas dentro de casa quanto com aquisições.
É esse direcionamento digital que chama a atenção dos investidores: a Soma viu seus papéis subirem 30% desde o IPO. Mas, segundo o presidente do grupo, Roberto Jatahy, a ideia é ir além. É a partir da interação com o cliente, em tempo real, que a empresa quer descobrir oportunidades para agregar novas marcas a seu portfólio. "A partir de agora todas as marcas surgirão dos canais digitais", prevê.
Para garantir o contato constante com o consumidor, a empresa investiu numa plataforma de live commerce. Funciona assim: as marcas produzem uma espécie de programa de TV, via streaming, em que debatem moda e apresentam roupas das grifes. O consumidor pode encomendar as peças ao vivo, em um clique. Se o participante tiver dúvida, ela é resolvida em tempo real, em um chat.
A Soma vem prosperando em um mercado difícil: o de moda para a classe média alta, repleto de empresas com dívida alta e em busca de reestruturação, como a InBrands (dona da Ellus e da Richards) e a Restoque (de Le Lis Blanc e Dudalina). O grupo surgiu quando Jatahy, dono da Animale, comprou a Farm, empresa que era forte no digital. Depois disso, vieram outras grifes, como a Cris Barros e Maria Filó.
Apetite. Agora, o desafio é acelerar ainda mais a digitalização. Por isso, em sua primeira aquisição após o IPO, levou a byNV, marca criada em 2012 pela Natti Vozza, influencer com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram. O desembolso foi de R$ 210 milhões, sendo 47% em dinheiro e o restante em ações - o que garantirá que Natti siga como sócia. Ao fazer essa escolha, a Soma surpreendeu o setor, que esperava que o grupo comprasse a tradicional marca Richards, da InBrands.
Jatahy diz que o nível de engajamento da marca de Natti Vozza é alto, mas que a aquisição pela Soma dará à grife mais possibilidades de crescimento. A byNV possui cinco lojas físicas no Estado de São Paulo, embora a influencer seja conhecida por todo o Brasil. O grupo planeja a abertura de 20 a 25 grandes lojas da NV, que servirão de "hubs" logísticos para o online.
Ainda com o caixa cheio, o Grupo Soma tem outras aquisições em análise. O foco, neste momento, está em duas operações. A prioridade é para marcas que surgiram na web e têm forte potencial de crescimento, embora a compra de redes maiores não esteja descartada.
Mesmo antes da pandemia, as vendas das marcas da Soma pela internet já estavam bem acima da média do setor, em 22%. Segundo a empresa, isso foi possível graças ao "código do vendedor", que permitia que funcionários ganhassem comissão por peças vendidos online. Com esse trabalho, a empresa conseguiu estancar as perdas da pandemia. Em março, já registrava o equivalente a 70% das vendas observadas anteriormente.
É por isso que, na opinião de um investidor que participou do IPO da companhia, a dona da Farm e da Animale é uma empresa de "varejo tech".
E os analistas de mercado parecem concordar com a avaliação. "Acreditamos que sua plataforma digital seja uma vantagem competitiva importante, pois oferece uma solução integrada entre marcas e canais em termos de logística, além de uma ampla estrutura de análise de dados para aumentar a fidelidade, conversão e frequência dos consumidores", aponta relatório divulgado neste mês pela XP Investimentos.
As mais lidas da semana