Inovação
Brasil é país que mais evoluiu em meios de pagamento durante pandemia na América Latina
A pandemia fez com que empresas inovadoras brasileiras avançassem no mercado de pagamentos e atingissem um estágio elevado de maturidade. É isso que aponta a Visa no recém-lançado estudo "2020: O cenário da inovação na América Latina e no Caribe", conduzido pelo centro de inovação da empresa em conjunto com a Americas Market Intelligence (AMI).
Em relação à primeira edição da pesquisa, realizada em 2019, o estudo registra um aumento de 24% no número de companhias consideradas avançadas e maduras na inovação.
Para a análise, o estudo selecionou as 100 principais empresas de inovação na América Latina e Caribe. Entre as 30 mais inovadoras da região, estão incluídas instituições financeiras de pequeno, médio e grande porte, varejistas tradicionais e nativos digitais, companhias aéreas, facilitadoras de pagamento, agregadores e fintechs. Como critérios de avaliação, foram usados cinco pilares de inovação: apoio interno à inovação, colaboração externa, execução, uso de tecnologia e impacto e escala.
O Brasil lidera o número de empresas inovadoras, com 43% das companhias dos setores mencionados acima, totalizando 12 empresas. Contudo, mercados menores como o da Costa Rica e Uruguai também receberam destaque.
Segundo Vanesa Meyer, head de inovação e design da Visa América Latina e executiva responsável pelo estudo, o que de fato diferencia as empresas maduras das consideradas apenas “avançadas” é o pensamento 360º voltado a ações efetivas para execução de projetos. “Vemos inovação e estratégia andando mais juntas. Nelas, há o pensamento de que a inovação é responsabilidade de todos, e a empresa oferece, de forma natural, mais espaço para os colaboradores levarem suas ideias e serem ouvidos”, explica.
Entre as brasileiras, o estudo destaca varejistas como Magazine Luiza, além de startups como a foodtech iFood e a fintech Neon. Em comum, essas empresas têm o foco em ações internas de inovação, que são inseridas em seus modelos de negócio e fazem parte da cultura da organização: 60% das pesquisadas têm uma equipe exclusiva de inovação, enquanto 89% integram a inovação no modelo de negócio.
"Isso nos mostra que, além de terem grandes ideias, essas empresas sabem transformá-las em produtos e funcionalidades viáveis rapidamente. Elas lançam, em média, 17 novos produtos no mercado por ano — uma média 39% superior à de outras empresas", explica Meyer.
O futuro dos pagamentos
Com relação ao futuro, o estudo aponta que avanços na regulação financeira brasileira preparam um terreno fértil para o desenvolvimento contínuo da inovação no setor. A chegada do PIX, nova tecnologia de pagamentos do Banco Central prevista para novembro, e as aprovações para o open banking, por exemplo, são propulsores para fintechs locais.
Segundo Meyer, a mudança de hábitos provocada pela Covid-19 levou os consumidores a substituir o dinheiro rapidamente e impulsionar os pagamentos digitais, promovendo uma mudança definitiva no setor.
Para a executiva, quando o assunto é o futuro dos pagamentos, a forma não será mais relevante. Porém, algumas condições — como a segurança — vão tomar o lugar dos critérios de exigência atuais. “Experimentar, adaptar e implementar novas tecnologias de pagamento será a principal resposta. A experimentação é a maneira de testar o que de fato vem para ficar. Vemos muitas brasileiras trabalhando com essas tecnologias, se esforçando para colocar pilotos no mercado", diz Meyer.
A pesquisa aponta tendências como a entrega de produtos imediata, aberta de contas online e instantâneas, pagamentos instantâneos invisíveis em todos os canais, compras e pagamento com assistentes virtuais, superapps, pagamentos com carteira digital, wearables e reconhecimento facial e de voz.
Inovação na prática
Segundo a Visa, uma das 30 empresas mais inovadoras da América Latina é a brasileira Neon. Recentemente, a empresa recebeu um aporte de US$ 300 milhões que também a consolidou como uma das principais fintechs do mercado. De acordo com Guilherme Rovai, head de produto e design da Neon, a aspiração à inovação está presente estruturalmente desde o nascimento da empresa.
Para incentivar a colaboração e a inovação entre seus colaboradores, a empresa mantém a iniciativa interna Lab Day, na qual desenvolvedores deixam de lado suas demandas para trabalhar em projetos que desejam durante uma sexta-feira por mês ao longo de todo o ano. “Não temos uma área de inovação, pois isso daria a entender que as outras áreas da empresa não inovam — o que não é verdade”, explica.
Além disso, a fintech possui projetos piloto já em implementação como uma ferramenta que mostra todos os serviços digitais onde o usuário registrou o seu cartão de crédito. “A forma como fazemos as coisas, com as ferramentas que temos, acaba tornando a inovação em algo natural. Apenas levamos em consideração se o propósito da ação faz sentido para o cliente e para nós”, diz.
Em consonância com as principais tendências apresentadas pelo estudo e a necessidade de experimentação, a Neon prevê novos produtos e melhorias nas ofertas que envolvem as tecnologias de machine learning e inteligência artificial, sobretudo para a área de pagamentos instantâneos.
“Quando falamos de serviços financeiros, flertamos com diversos pontos, mas temos de ver como trabalhar com cada uma dessas tecnologias e como usar as tecnologias já disponíveis para melhorar a experiência do nosso cliente e iremos continuar testando na prática”, diz.
Parcerias com startups
O estudo também aponta que a maior parte das empresas mais inovadoras da América Latina e Caribe (90%) formam parcerias comerciais com startups — número que contrasta com os 75% da amostra total.
A partir desse recorte, Meyer aponta que há uma forte tendência de integração e colaboração com terceiros na busca por novas expertises que fogem da área de atuação principal de uma empresa. “Essa colaboração permite às empresas trazer novos serviços e soluções para o mercado muito mais rápido, graças ao poder das parcerias estratégicas”, relata.
As empresas destacadas também adotam tecnologias emergentes com mais agilidade e de maneira mais sofisticada do que as demais companhias analisadas. 87% das 30 mais inovadoras utilizam inteligência artificial (IA), 81% usam machine learning, 77% usam chatbots e biometria e 30% fazem uso de internet das coisas (IoT).