App de aluguel de instrumentos musicais
BATS quer democratizar o acesso a instrumentos musicais por meio de assinaturas
O cenário musical brasileiro, embora pulsante em diversidade rítmica ao longo de décadas, enfrenta um obstáculo estrutural que limita seu pleno desenvolvimento: a barreira de acesso aos instrumentos. Mesmo com uma fama internacional para a música, nosso país ainda possui diversos obstáculos a quem sonha em aprender um instrumento, independente da faixa etária.
Para aspirantes a músicos, o investimento inicial é um entrave significativo. Uma bateria eletrônica compacta usada, ideal para iniciantes, pode custar entre R$ 1.800 e R$ 4.000; um teclado de entrada, de R$ 700 a R$ 1.800; e um piano digital, de R$ 2.500 a R$ 6.000. Esses valores, somados aos custos das aulas (que variam de R$ 60 a R$ 120 por hora para bateria, e de R$ 50 a R$ 200 para teclado ou piano), transformam a prática musical em um privilégio em um país como o Brasil.
As estimativas para os custos de aulas e instrumentos para iniciantes no Brasil foram baseadas em levantamentos de plataformas especializadas como Superprof, GetNinjas e Cronoshare, além de cotações atuais de grandes lojas do varejo musical online. É neste contexto que a BATS, uma plataforma inovadora de aluguel por assinatura de instrumentos musicais, surgiu como um vetor de democratização e uma startup de relevância estratégica no mercado musical.
Proposta de valor afinada ao mercado
Fundada em agosto de 2021 por Leonardo Nocito (CEO) e Luiza Massari (COO), não é apenas uma locadora de instrumentos; é uma solução de "instrumento como serviço" que redefine o consumo musical no Brasil. A premissa é simples, mas disruptiva: transformar ativos subutilizados em fontes de receita e oportunidades de aprendizado.
"No início o modelo de negócio levantou muitas dúvidas: o preço dos instrumentos era realmente um problema? As pessoas estariam dispostas a pagar pelo aluguel? Será que os clientes cuidariam bem dos instrumentos alugados? Os instrumentos dariam muita manutenção com os aluguéis?", relembra Nocito. "Logo a gente percebeu que todo mundo teve interesse. O atendimento a oficinas de carnaval e escolas de música no Rio de Janeiro impulsionou a demanda por instrumentos de sopro, demonstrando a adaptabilidade e o potencial de nicho da plataforma”.
Escalas de crescimento
Após um investimento inicial de aproximadamente R$ 300 mil por Leonardo Nocito, a empresa capitalizou sua validação de mercado com uma rodada anjo de R$ 700 mil em 2022. Mais recentemente, em 2025, uma rodada de crowdfunding levantou R$ 465 mil. A arquitetura de negócios da BATS é duplamente estratégica: opera com frota própria e, de forma ainda mais escalável, como um marketplace de instrumentos de terceiros, similar a Uber e Airbnb.
"A BATS tem dois clientes. Um é o que aluga e o outro é quem é o investidor que compra instrumentos com a BATS", detalha Nocito. Este modelo não apenas otimiza o uso de capital, mas também atrai investidores interessados em retornos sobre ativos de baixa depreciação. "Enquanto carros, smartphones e eletrônicos perdem valor rapidamente, um instrumento pode durar séculos quando bem cuidado", pontua.
Com uma margem de contribuição de 80% e um yield anual de 85%, a BATS é um negócio com alta rentabilidade. O faturamento mensal atual de R$ 250 mil, com projeções de alcançar R$ 3 milhões a R$ 3,5 milhões até o final de 2025 e R$ 10 milhões em 2026, representa um crescimento exponencial de duas a três vezes ao ano.
Escola de música em Curitiba é case de sucesso

Cleber Passanante, diretor da Academia do Rock em Curitiba, atesta o valor da plataforma como facilitadora: "A gente tem essa parceria com a BATS há aproximadamente uns oito meses. O que nos chamou atenção foi realmente a proposta de valor da empresa: fazer o aluguel de instrumento, para iniciantes terem o primeiro contato, facilita muito. Também é uma vantagem para a escola dizer que a gente tem essa parceria, porque às vezes a pessoa pensa: ‘putz, tem que matricular no curso e também comprar um instrumento'”. A parceria já resultou no aluguel de mais de 20 instrumentos para alunos, conta o diretor.
Presença em quatro capitais
A BATS consolidou sua presença nas quatro principais capitais do Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba. A capital paranaense, em particular, surpreendeu com uma demanda robusta, impulsionada por uma rica cena musical e a proliferação de bandas cover em rock e samba, conta Nocito.
Atualmente, São Paulo lidera as operações, contribuindo com 40% a 50% do faturamento, seguida de Rio de Janeiro e Curitiba (20% a 25% cada), e Belo Horizonte (10% a 15%). Com mais de cinco mil instrumentos e 30 mil transações realizadas, a BATS atende a mais de seis mil clientes, com dois mil assinantes ativos no momento.
A demanda por bateria eletrônica é o destaque, apesar do seu custo inicial elevado. Violões, guitarras, baixos, teclados e pianos também compõem o portfólio de alta rotatividade, que inclui ainda acessórios como amplificadores e pedais.
Inovação contínua e flexibilidade
A flexibilidade é um pilar da proposta de valor da BATS. Seus planos de assinatura, de mensais a anuais, permitem a troca de instrumentos em pacotes trimestrais e anuais. "Você pode fechar uma assinatura anual e poder tocar mais de seis instrumentos nesse período. Pode, por exemplo, experimentar diferentes modelos de pedais de guitarra, que é um negócio muito específico e gera muita curiosidade entre os músicos. A BATS dá essa possibilidade", explica Nocito.
Uma bateria eletrônica de entrada da Roland, por exemplo, custa entre R$ 200 e R$ 300 mensais na BATS, valor que pode cair para R$ 170 a R$ 200 no plano anual. "É bem acessível considerando o preço total do produto", ressalta o CEO.
A BATS se diferencia por suas parcerias estratégicas com fabricantes renomados como Roland, Casio, Yamaha e Gibson, assim como por trabalhar com luthiers (artesãos de instrumentos) locais. Essas colaborações garantem um catálogo diversificado e de alta qualidade para os assinantes.
Previsão de chegada a Brasília e mais capitais
Os planos de expansão incluem a abertura de novas operações nos próximos meses em Brasília, Porto Alegre e Florianópolis. A startup também está intensificando parcerias B2B com escolas de música, oferecendo benefícios para alunos e explorando a introdução da solução em escolas de ensino fundamental. "A gente sempre trabalhou com escolas, só que agora o negócio ficou muito mais evidente que tem oportunidade ali", destaca Nocito.
A BATS também se posiciona como uma gestora de ativos, monitorando o desempenho individual de cada instrumento. No campo de investimentos, a BATS prepara uma oferta privada de dívida, permitindo que investidores adquiram cotas de instrumentos com rendimentos fixos e atrativos. Há também planos para expandir a venda de instrumentos alugados a assinantes que desejem adquiri-los, com garantia mínima de 30 dias.
Nome se conecta ao propósito final da iniciativa

O nome "BATS" é um acrônimo fonético de "beats" (batidas, em inglês), uma referência à musicalidade. Além disso, a palavra "Bats" em inglês significa morcego, animal que se locomove por meio de ondas sonoras (sonar) e vive em comunidade.
“Nosso nome sintetiza totalmente a proposta da empresa: conectar pessoas através da música e de uma plataforma compartilhada. Queremos repensar o consumo de instrumentos musicais no Brasil, tornando o acesso mais democrático e acessível", conclui Nocito.