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A Arábia Saudita tem dado passos largos em direção a investimentos maciços em tecnologia e inovação. Crédito: NEOM

Série Exclusiva

Depois do Vale do Silício, Arábia Saudita será próximo polo de inovação global -  eis o porquê você deve se atentar a isso

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias
22/12/2023 10:00
No especial “Visão 2030 Arábia Saudita”, o GazzConecta mergulha na cultura, oportunidades e tendências de um dos países mais ricos do mundo e sua visão de futuro.
A Arábia Saudita atrai olhares de todo o mundo graças à sua riqueza e prosperidade. Como uma das nações mais abundantes em recursos financeiros do mundo, o país com pouco mais de 35 milhões de habitantes concentra a maior faixa territorial do Oriente Médio.

Petróleo em abundância

Berço da religião islâmica, o país é, hoje, o principal produtor e exportador de petróleo global, um feito que o coloca entre as nações mais ricas do mundo e contribui para o protagonismo do país na OPEP, organização responsável pelo controle  e regulação deste mercado. Atualmente, 40% do PIB da Arábia Saudita é proveniente da atividade petrolífera.
Alcançar o status, no entanto, não depende apenas da matéria-prima fóssil. O aspecto geográfico é também um importante impulsionador desse resultado, já que o país está localizado nos limites entre a Ásia e África, além de estar próximo às rotas marítimas do Oceano Índico e o Mar Mediterrâneo. A região estratégica confere à Arábia Saudita uma posição privilegiada no comércio global.

Cultura

A Arábia Saudita segue o regime monárquico e é, atualmente, comandada pelo rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, de 87 anos. As decisões políticas e diplomáticas, contudo, estão sob controle de Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro do trono saudita e atual primeiro-ministro do país. Sua fortuna é estimada em US$ 25 bilhões.
Apesar de ser alvo de duras críticas e acusações de violações por diversas organizações de defesa dos direitos humanos, a monarquia de Salman também traz consigo uma série de avanços sociais e culturais em um país conhecido por suas leis e costumes rígidos. Sob o comando do príncipe saudita, por exemplo, o país passou a permitir, pela primeira vez, a entrada de mulheres em estádios desportivos. Elas também foram autorizadas a dirigir automóveis no reino, desde 2018.

Novo destino tecnológico

Sob o comando de MBS, o país tem também dado passos largos em direção a investimentos maciços em tecnologia e inovação. Para além das exuberantes paisagens compostas por arranha-céus e projetos de construção civil dignos de ficção científica, uma importante característica da Arábia Saudita tem relação com sua ambição crescente em ser reconhecida como o próximo polo tecnológico do mundo.
Para isso, lançou em 2016 o Vision 2030, um plano estratégico que contempla ações básicas para que o país seja capaz de avançar em frentes como sustentabilidade e bem-estar social, até o fim da década. Por trás do plano, está o desejo da nação em diversificar sua economia ao investir em múltiplos setores, reduzindo a dependência do petróleo e atraindo, assim, investimentos internacionais.
Na visão saudita para o futuro, o foco está em algumas áreas-chave como saúde, energias renováveis, biotecnologia, sustentabilidade fiscal, habitação, turismo, indústria e logística.
A partir desse plano, recheado de metas para curto, médio e longo prazos, o país quer abandonar o petróleo como principal fonte de energia do país, além de ampliar as oportunidades de emprego formal e de atrações culturais e de entretenimento à população. A seu favor está o acesso a recursos financeiros praticamente infinitos: o fundo soberano saudita, principal investidor de tais projetos, prevê atingir a marca de US$ 1 trilhão em caixa até 2025. Parte desse desenvolvimento também se dará por parcerias público-privadas e com o terceiro setor.
“Já é algo que vai além do discurso”, afirma Diogo Ruiz, empreendedor e correspondente do GazzConecta que, recentemente, esteve no país para acompanhar os bastidores dos projetos ligados ao plano 2030. “Os projetos são grandiosos, e um marco na história da inovação tecnológica global, algo que já está em andamento por lá”, pontua.
O plano é um chamado para união harmoniosa entre a modernidade e as tradições culturais do país. O desafio, é claro, é também colossal, especialmente graças à chegada de novas gerações e a abertura de fronteiras para turistas e visitantes de diferentes culturas - algo até então inédito para o país.
A resposta da Arábia Saudita, para isso, será o de reforçar os aspectos culturais e religiosos ao preservar elementos como a língua e, também, inaugurar museus e locais culturais em celebração às tradições árabes e islâmicas, como uma aposta no chamado “turismo religioso”. Um exemplo está na ampliação da capacidade de visitantes recepcionados no país durante o Umrah, tradicional peregrinação muçulmana. Atualmente, a Arábia Saudita recebe em torno de 8 milhões de visitantes anualmente - e pretende ampliar o número para 30 milhões.
“Vamos fazê-lo mantendo-nos fiéis aos nossos valores e princípios nacionais, bem como encorajando o desenvolvimento social e defendendo a linguagem árabe. Continuaremos a trabalhar na restauração do património nacional, local e cultural árabes, islâmicos e antigos e nos esforçamos para tê-los registrados internacionalmente para torná-los acessíveis a todos e, no processo, criar eventos culturais e construir museus que atrairão visitantes de perto e de longe. Isso vai criar um testemunho vivo da nossa herança antiga, mostrando o nosso lugar de destaque na história e no mapa das civilizações”, defendem os representantes em publicação oficial sobre o projeto.
Ainda nas frentes de cultura e entretenimento, o país estima também investir em projetos e artistas locais, além da construção de museus, livrarias e outros espaços culturais para  a população. Tudo isso, na visão dos monarcas, ampliará oportunidades de emprego, além de atrair investidores internacionais dispostos a apostar nas terras sauditas como um próximo destino para grandes empreendimentos ou eventos. Com essas ações, o país também pretende fazer com que os gastos de famílias em atividades culturais e de entretenimento dentro do reino saltem de 2,9% para 6%.
Outro pilar do Vision 20203 está na educação. A intenção é investir um montante considerável em formação tecnológica e capacitação, com o intuito de preparar a população para o futuro do trabalho e para cargos tecnológicos em alta nos próximos anos. “Capacitaremos os cidadãos e as empresas para atingirem o seu pleno potencial, diversificarmos a nossa economia, apoiaremos o conteúdo local e criaremos oportunidades de crescimento inovadoras”, afirma a cartilha.

Por que se atentar a isso?

“A jornada de desenvolvimento econômico da Arábia Saudita é mais do que um caso a ser estudado pelo mundo. É uma oportunidade que deve ser considerada com muito mais atenção por empreendedores e líderes de tecnologia”, diz Ruiz.
Para o empreendedor, estar atento às recentes movimentações do país em prol da inovação, tecnologia e sustentabilidade é um dever indissociável de cada executivo, fundador de startup ou investidor de olho em tendências em alta para o mercado nos próximos anos. “Todo mundo que tem um negócio precisa saber o que será a grande nova onda do mercado e do mundo. Acompanhar isso é um dever”, defende.
Segundo Ruiz, que já esteve em inúmeros países para estudar tendências e antecipá-las em seus negócios, o Vision 2030 e os recentes esforços do país saudita para diversificar a economia, tendo a clara intenção de criar novos postos de trabalho e tornar-se o novo foco de investimentos globais, acompanha movimentos similares ocorridos com países como Estados Unidos e China.
“Primeiro, vimos o grande boom das startups do Vale do Silício. Depois, o frenesi da China e seus investimentos em tecnologia. Não tenho dúvidas de que, depois disso, a Arábia Saudita é o próximo polo de inovação e sustentabilidade do mundo”, diz.
Recentemente, a região tem, também, ganhado destaque internacional devido à sua aproximação com o Brasil, um de seus principais parceiros comerciais. Nos próximos sete anos, o país saudita pretende injetar, ao menos, US$ 9 bilhões no Brasil por meio de seu Fundo Soberano. Trata-se de uma aposta no potencial brasileiro em áreas como agropecuária, hidrogênio verde e energias renováveis, pilares importantes na visão sustentável de futuro saudita.
“Está claro que está na hora de olhar para a Arábia Saudita como um destino global do comércio, da atividade econômica e do empreendedorismo”, diz Ruiz.
Vista da cidade de Riyadh, prédio do Fundo Soberano Saudita.

E vem aí o GazzSummit

O GazzSummit Agro e Foodtechs é uma iniciativa pioneira do GazzConecta para debater o cenário de inovação em dois setores de grande relevância para o país. O evento será realizado nos dias 8 e 9 de maio de 2024 com o propósito de conectar e promover conhecimento para geração de novos negócios, discussão de problemas e desafios, além de propor soluções para o setor.
O GazzSummit promove a disseminação de tecnologias e práticas de inovação que possam levar a cadeira produtiva ainda mais longe. Uma super estrutura espera os participantes, que poderão conferir mais de 30 palestrantes e mais de 300 empresas. O evento vai reunir players importantes do ecossistema como grandes empresas, cooperativas, produtores, entidades públicas, startups e inovadores. Garanta já a sua inscrição no site.

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