Mirella Lisboa, gerente de inovação aberta da BASF para a América Latina, é uma das painelistas do GazzSummit Agro e Foodtechs, evento que acontece em Curitiba nos dias 26 e 27 de março. Crédito: Marcelo Andrade.
Agro inteligente? Futuro do setor é tema de debate no GazzSummit Agro e Foodtechs
Bruno Raphael Müller
18/03/2025 18:48
O agronegócio passa por uma transformação que vai além da adoção de novas tecnologias. Mais do que digital e automatizado, o chamado agro inteligente busca aliar eficiência produtiva, sustentabilidade e inovação para garantir competitividade em um cenário global de desafios climáticos e demandas crescentes por alimentos.
Se antes a mecanização e a conectividade foram os motores da revolução no campo, agora a inteligência está em como esses recursos são aplicados para otimizar processos, reduzir desperdícios e integrar toda a cadeia produtiva, do campo ao consumidor final.
Nesse contexto, a tecnologia é uma aliada estratégica, mas não o único pilar. A gestão baseada em dados, a biotecnologia e a adoção de práticas regenerativas se somam à digitalização para tornar a produção mais eficiente e responsável, com foco no futuro. É o que Paula Packer, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, define como Agro 6.0.
Se o Agro 4.0 foi marcado pela digitalização e o Agro 5.0 trouxe o foco no humano e na sustentabilidade, o Agro 6.0 aponta para um sistema totalmente integrado, no qual biotecnologia, inteligência artificial e ESG se unem para um modelo produtivo resiliente e regenerativo.
Seria este o agro inteligente? Na visão de Mirella Lisboa, gerente de inovação aberta da BASF para a América Latina, sim.
Mirella e Paula são duas das grandes lideranças que compõem a programação do GazzSummit Agro e Foodtechs, um dos principais fóruns de discussão sobre o agronegócio e o mercado de alimentos e bebidas do Sul do Brasil. O evento acontece nos dias 26 e 27 de março, dentro do Smart City Expo Curitiba, o maior evento sobre cidades inteligentes das Américas.
Agro inteligente e cidades sustentáveis
A conexão entre o agro inteligente e cidades mais sustentáveis será o tema do painel que reúne as duas executivas, ambas à frente de projetos que fomentam a transformação do setor agropecuário. Rodrigo Maluf, sócio-líder de M&A na EY Brasil, também participa do debate, trazendo uma visão sobre investimentos no agro. A mediação é de Zaki Akel, CEO da Academic Ventures e Partner Regional da ESPM no Paraná.
Investir em inovação é um compromisso tanto da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) quanto da BASF, gigante global da indústria química para a agricultura. As empresas têm projetos que buscam tornar o agronegócio mais eficiente e sustentável de ponta a ponta.
Com 43 unidades de pesquisa espalhadas pelo Brasil, a Embrapa atua em diversas áreas do agronegócio, desde a produção de alimentos até a preservação ambiental, tendo como missão principal a promoção do desenvolvimento sustentável do setor agropecuário. A BASF, por sua vez, oferece um portfólio completo de soluções para a agricultura, que inclui sementes, defensivos agrícolas, fertilizantes, biológicos e ferramentas digitais.
O painel que reúne Paula e Mirella discutirá como tecnologia e inovação estão transformando o setor agrícola em todas as etapas, do plantio à distribuição de alimentos. O debate também abordará o impacto desses avanços na cadeia produtiva e na conexão entre o campo e o consumidor, com foco em soluções para os desafios da produção sustentável de alimentos.
Paula destaca que, para se chegar ao conceito de agro inteligente, foi preciso passar pelos estágios do Agro 4.0 e do Agro 5.0 até que o Agro 6.0 trouxesse uma nova mentalidade para o setor. “O Agro 6.0 se diferencia das práticas tradicionais e tem foco na sustentabilidade – não apenas ambiental, mas na permanência do agro daqui por diante”, explica.
Para isso, a gestora enfatiza a importância da sinergia entre diferentes áreas. “Agro, bio e tech devem atuar de forma conjunta para que haja uma transição para a agricultura moderna. Neste sentido, há um olhar bem aguçado para algumas verticais, como o uso de dados e conectividade, além de sensores, drones, big data e IoT (internet das coisas)”, destaca.
Sustentabilidade ambiental e eficiência operacional
A sustentabilidade de baixo carbono, em um mundo onde o ESG ganha cada vez mais força, é crucial, assim como as vertentes ambiental, social e econômica, ressalta a gestora da Embrapa. “Não adianta falarmos em sustentabilidade sem uma vertente econômica muito forte”, alerta.
Mirella Lisboa compartilha da mesma visão. “Um agro verdadeiramente inteligente vai além do uso da tecnologia, sendo aquele que consegue ser cada vez mais produtivo e sustentável em todas as esferas”, afirma.
A executiva da BASF, que também participou da primeira edição do GazzSummit em 2024, ressalta que o investimento da empresa em pesquisa e desenvolvimento tem o papel de auxiliar os produtores na busca por uma produção de alimentos mais sustentável e eficiente. “É um investimento tremendo. Por ano, a BASF direciona € 900 milhões para pesquisa e desenvolvimento aplicados ao agro”, revela.
Personalização das operações agrícolas
Mirella destaca que a personalização das operações agrícolas, baseada em dados e tecnologias digitais, é uma das principais oportunidades do agro inteligente. Ela também aponta desafios, como a falta de infraestrutura e capacitação profissional, mas se mostra otimista quanto ao futuro do setor.
Hoje, as oportunidades são inúmeras, mas a principal delas é a possibilidade de personalizar as operações para as características de cada produtor rural, com base em dados, e escalar a tomada de decisão mais consciente para áreas cada vez maiores
, comenta.
A BASF, diz ela, está comprometida em apoiar os agricultores na transição para um agro mais produtivo, sustentável e resiliente. Aos resistentes ao processo, Mirella faz um alerta: “O agro inteligente é um caminho sem volta”.
Necessidade de diálogo entre os atores do setor
Tanto Mirella quanto Paula veem no GazzSummit uma oportunidade essencial para promover o diálogo e a colaboração entre os diversos atores do setor agropecuário.
“O GazzSummit é uma oportunidade única para reunir mentes brilhantes e discutir soluções inovadoras que podem transformar o futuro do agronegócio e das cidades”, afirma Mirella. “Minha expectativa para o evento é que ele sirva como um catalisador para debates profundos e colaborações estratégicas, especialmente no contexto do agro inteligente e das cidades sustentáveis”.