Ação Inovadora
“Marketplace de saúde” une médicos a pacientes por meio de app com mensalidades a R$ 100
Mesmo com a conquista de um Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, cujo funcionamento é modelo para vários países do mundo, o acesso à saúde no país costuma se dividir entre quem é atendido pelo público ou por quem paga planos de saúde. Ambas opções trazem ônus e bônus: no caso do SUS, nem sempre uma consulta especializada está disponível na velocidade ideal e, nos planos, a judicialização (quando se negam a cobrir tratamentos com maior custo, por exemplo, o que só é conseguido via Justiça) tem sido um problema para clientes que precisam de tratamentos mais complexos.
Co-fundadora e COO da healthtech Dandelin, Mára Rêdigollo passou por esse problema há pouco mais de três anos: sua mãe, que era médica, teve câncer e faleceu. O plano de saúde que a atendia não cobriu todos os custos, o que gerou uma dívida para a família. Na mesma época, seu amigo e agora sócio Felipe Buratini a chamou para colocar uma ideia em prática na área da saúde, baseada na economia compartilhada: um aplicativo que conectasse médicos e pacientes, com uma mensalidade acessível, atendendo a quem não quer ser totalmente dependente do SUS mas não tem condições, ou não quer, pagar um plano de saúde.
"Era uma dor latente para mim e arrisquei. É recompensador trabalhar por um propósito que leva em conta acesso à saúde, prevenção e democratização ", diz Mára. Ela deixou área de marketing de uma empresa de seguros para encarar a empreitada. Em abril de 2018, a dupla lançou a Dandelin no mercado, que hoje emprega em média 30 pessoas, entre pessoal próprio e terceirizado. "Didaticamente, somos um marketplace que junta médicos a quem procura serviços de saúde por uma assinatura mensal", explica a COO.
Por um aplicativo, o usuário procura médicos da especialidade que deseja e agenda a consulta, presencial ou via telemedicina - a modalidade, que foi regulamentada por conta da pandemia de coronavírus pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) enquanto dure a crise sanitária, ajudou a aumentar a base de clientes e médicos da healthtech. Hoje, a Dandelin conta com 900 profissionais e 4 mil clientes. Os atendimentos presenciais são feitos em São Paulo, Rio de Janeiro e mais recentemente, Curitiba.
A telemedicina, no entanto, permitiu um acesso maior - tanto de pacientes que não contavam com determinados especialistas em suas cidades, quanto para os médicos, que agora conseguem atender pacientes de diferentes regiões do país. No aplicativo, toda a prescrição fica arquivada na plataforma, o que facilita o acompanhamento clínico.
Mára conta que, na pandemia, especialidades como psiquiatria e psicologia tiveram um aumento no volume de consultas de cerca de 80%. "Está comprovado que quanto mais as pessoas se isolam, mais problemas com a saúde mental. Na pandemia, e com a possibilidade de consultar um médico de maneira remota, muita gente perdeu esse receio de prezar pela saúde mental. É algo que ficou menos estigmatizado", acredita.
R$ 100. E nada mais
Ao contrário de planos de saúde privados, que cobram sua mensalidade conforme faixa etária (e presumem que, quanto maior a idade, mais problemas de saúde a pessoa terá, e mais precisará pagar), a proposta da Dandelin é ter uma mensalidade única de, no máximo, R$ 100. O usuário pode pagar até menos, dependendo do mês, mas nunca mais. "Como a nossa mecânica é de economia compartilhada, o nosso robô enxerga os custos do mês com as consultas realizadas e vai dividir por todos da comunidade. Se for mais do que R$ 100, a Dandelin cobre. Se for menor, paga menos", explica Mára.
A tendência de que a regulamentação da telemedicina seja algo concreto no pós-pandemia é algo que anima a healtech, que quer focar sobretudo na prevenção: com consultas mais frequentes e acompanhamento clínico, menores as chances de complicações de saúde.
Além disso, a empresa pretende expandir o atendimento ao que Mára define ser um público que fica "no meio do caminho" entre o SUS e os planos. "Quem tem um super plano de saúde não vai entrar no Dandelin e, para uma camada imensa da população, R$ 100 pesam muito no orçamento. Nossa proposta é ser uma alternativa e mostrar que, quando se tem acesso, está em suas mãos cuidar da sua saúde de forma preventiva", frisa.