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Arte: Daniel Nardes / Gazeta do Povo

Ação Inovadora

Clínicas e hospitais privados do PR veem pacientes sumirem e custos crescerem na pandemia

Vivian Faria, especial para o GazzConecta
31/08/2020 12:00
Se de um lado o sistema de saúde do Paraná ainda trabalha sob muita pressão, mesmo com a recente estabilização do crescimento da Covid-19 no estado, do outro, é a falta de pacientes que causa problemas. “No começo, o movimento caiu 80%, os pacientes simplesmente desapareceram”, resume o diretor-médico do Hospital Union, Paulo Fadel.
Pequeno e voltado principalmente para a realização de cirurgias eletivas, com foco nas plásticas e oftalmológicas, o hospital curitibano foi um dos estabelecimentos da rede privada que viu seus atendimentos - e, consequentemente, sua receita - minguarem durante o período da pandemia. No Hospital Iguaçu, especializado em otorrinolaringologia, a redução foi de 90% nas primeiras semanas. “A população ficou assustada com tudo o que aconteceu, tudo o que foi informado. Parece que todos os hospitais se tornaram locais contaminados e que ninguém deve ir até eles”, avalia Fadel.
Além do medo da doença e da adoção do isolamento social para evitá-la, a orientação para que cirurgias e outros procedimentos eletivos fossem adiados para manter leitos disponíveis para paciente com Covid-19 foi, conforme representantes do setor, a medida que, embora justificada, criou parte da situação. “Quando veio a primeira orientação da ANS para que se evitasse as cirurgias eletivas com objetivo de liberar leitos de UTI, isso diminuiu a ocupação dos hospitais. Mas como foi uma orientação de cunho nacional, foi um impacto terrível para os hospitais de regiões que não estavam com grande volume de pacientes Covid”, explica o presidente do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Sindipar), Flaviano Feu Ventorim.
A orientação, que seguia uma recomendação do Ministério da Saúde - a qual também afetou sistema público e provocou redução nos internamentos feitos pelo SUS -, veio na forma de uma resolução, publicada no fim de março, que prorrogava os prazos que os planos de saúde têm para realizar cirurgias e outros procedimentos eletivos - exceto os de urgência e emergência. No início de junho, os procedimentos voltaram a ser autorizados, mas no fim de julho a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) suspendeu as cirurgias eletivas no Paraná para reduzir a demanda por medicamentos usados nas UTIs - o que foi flexibilizado no dia 21 de agosto.
Com tudo isso, a ocupação dos hospitais e clínicas, que gira em torno de 80% a 85%, passou a variar entre 40% e 50%, de acordo com o Sindipar. “A recuperação disso tem sido lenta. Hoje estamos com aproximadamente metade do nosso movimento, mas as pessoas que estão nos procurando são as que realmente não podem esperar”, afirma Fadel.

Receita menor, gastos maiores

Além de terem que lidar com a queda brusca de receita, os estabelecimentos de saúde gastaram mais durante o período. Os que atendem pacientes com Covid-19, por exemplo, estão arcando com custos de hora extra e de substituição de funcionários que também foram acometidos pela doença.
A alta demanda mundial também acarretou o encarecimento de medicamentos, assim como de equipamentos de proteção individual. Conforme Ventorim, uma máscara cirúrgica tripla que custava, no início do ano, em torno de R$ 0,10 chegou a ser vendida por até R$ 4,00 nos primeiros meses da pandemia - isso quando estava disponível. “Ficamos sem máscara, porque ela é produzida na China. Ficamos sem respirador, porque ele é produzido na Alemanha, nos Estados Unidos e na China. O país não pode ficar tão dependente do mercado externo, a indústria tem um potencial enorme”, diz Ventorim.
Hoje, o preço está mais baixo - em torno de R$ 0,90, conforme Ventorim - e estabilizado, mas o consumo deste e de outro materiais dentro de clínicas e hospitais também aumentou, já que eles passaram a ser itens obrigatórios para todos os funcionários e durante todo o tempo. “Além de ter um aumento no valor do material e do medicamento, teve esse custo extra”, resume a coordenadora do Hospital Iguaçu, Mayumi Suzuki.
A situação se refletiu nos empregos do setor: apesar de o saldo do semestre ser positivo, com 1.466 admissões, durante os meses de abril e maio foram registradas 1.124 demissões, o que fez com o que saldo fosse negativo no segundo trimestre do ano - o mais afetado pela pandemia até agora. O Hospital Union foi um dos não precisou demitir, devido ao programa de redução de jornada e salário do governo federal. Já o Iguaçu precisou reduzir o quadro de médicos.

Impactos da crise no setor de saúde no PR

Novas formas de atender

Com a sobrevivência da empresa em jogo, o Hospital Iguaçu não perdeu tempo na hora de buscar alternativas para reverter a redução no movimento e ainda nos primeiros meses da pandemia implantou novas formas de atendimento para alcançar o público que não queria ir até o local. “Tivemos que nos reinventar. A pandemia veio para dar um chacoalhão também nos hospitais”, afirma Mayumi.
Conforme ela, assim que a telemedicina foi incluída pela Agência Nacional de Saúde no rol de coberturas obrigatórias dos planos de saúde, em abril, o hospital adaptou seu sistema e passou a atender remotamente. Hoje são dois os médicos responsáveis por este atendimento, que acontece de domingo a domingo. Como eles entram em contato com os pacientes via internet diretamente de suas casas, os profissionais escolhidos para fazer as teleconsultas são aqueles que se encaixam em grupos de risco da Covid-19, o que permite que eles trabalhem sem o perigo de contrair a doença.
Para quem prefere encontrar o médico pessoalmente, mas quer evitar sair de casa ou ir até estabelecimentos de saúde, o hospital também vem ofertando consultas domiciliares.
Para Mayumi, as novidades, que contribuíram para a recuperação de parte do movimento e a retomada de aproximadamente 50% do faturamento, podem, se a futura regulamentação permitir, ser permanentes. Além disso, outras ideias, como a inclusão de novas especialidades no rol das atendidas pelo hospital, também estão sendo estudadas para enfrentar os desafios imediatos impostos pela pandemia.