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Correção de redações, preparação de aulas e provas e até ferramentas para combater o bullying. Conheça cinco empresas e instituições que estão usando IA para melhorar a educação.

IA na educação

5 empresas e instituições que estão usando a inteligência artificial para melhorar a educação

Fernando Henrique de Oliveira, especial para o GazzConecta
11/09/2023 14:39
No início de julho, a Teachy anunciou um aporte pré-seed no valor de R$ 8 milhões. Este foi o maior investimento recebido por uma edtech neste estágio no Brasil - e um dos maiores da América Latina, conforme informado pela NXTP, que liderou a rodada com participação da Roble Ventures.
Também recente foi o anúncio da aquisição da Pontue pela FTD Educação, um dos maiores sistemas educacionais do país. A edtech de Ribeirão Preto, que tem mais de 30 mil professores cadastrados em sua base, também já havia chamado a atenção da Women Investment Movement (WIM Angels), grupo de investidoras criado em 2021, em Curitiba, para investir em startups fundadas por mulheres.
As startups têm um ativo valioso em comum: a utilização da inteligência artificial para ajudar professores a otimizarem o trabalho fora de sala de aula. Os anúncios do aporte da Teachy e da aquisição da Pontue chamam atenção não apenas pela importância desses anúncios para o mercado de startups de educação, mas também pelo poder de impacto da  inteligência artificial na realidade de professores brasileiros.
Pedro Siciliano e Fábio Baldissera, cofundadores da Teachy. Crédito: Zô Guimarães.
Pedro Siciliano e Fábio Baldissera, cofundadores da Teachy. Crédito: Zô Guimarães.
Teachy e Pontue não estão sozinhas. Outras startups e instituições também utilizam tecnologias proprietárias de IA para preencher lacunas do processo pedagógico, seja para auxiliar os professores com correções de provas e exercícios, seja para acompanhamento do rendimento do aluno, e até como ferramenta para auxiliar no combate ao bullying.

“Pense em corrigir mil redações por semana”

Professores exercem funções que vão muito além do compartilhamento de conhecimento. A rotina multitarefas passa pela preparação de aulas, correção de provas e exercícios, além de afazeres administrativos.
“Pense em uma escola que possui mil alunos se preparando para o ENEM. Você terá, pelo menos, mil redações por semana para corrigir. Daí você tem dois problemas: o tempo do professor dedicado a essa tarefa fora de sala de aula e a qualidade do que é devolvido ao aluno”, aponta Cris Miura, sócia-fundadora da Pontue.
Foi justamente para sanar essa dificuldade que a Pontue foi criada em 2017. A startup utiliza tecnologia para ajudar instituições de ensino de todo o Brasil na correção de redações. A inteligência artificial é utilizada na primeira etapa do processo, para a identificação de problemas de ortografia, pontuação, coesão textual e gramática. Depois desta etapa, um time de professores é acionado para a correção de cada texto.
O diferencial é a personalização dessas correções. “Somos a única plataforma do país que grava o processo de correção, enviando para o aluno um pequeno vídeo produzido por um dos nossos 3 mil professores, explicando os pontos de melhoria e adequações necessárias naquele texto”, explica Cris.
Para isso, o aluno precisa acessar a plataforma da Pontue, pelo computador ou pelo celular, e digitar seu texto para que ele possa ser corrigido na sequência. O texto também pode ser escrito à mão e fotografado. Depois, a plataforma converte a imagem em texto para que as correções possam ser realizadas.
No caso da Pontue, a IA auxilia na correção das redações, mas apenas nos aspectos mais superficiais. “Em pontos mais profundos, como a construção lógica, a construção semântica e a coerência, a IA erra em vários pontos. Neste sentido, ela é apenas uma ferramenta que precisa ser contextualizada no âmbito de sua utilização, com níveis maiores ou menores de profundidade”, reflete Cris.

“IA não é a solução de todos os problemas do processo educacional, mas pode ajudar”

Para Pedro Siciliano, CEO e cofundador da Teachy, a inteligência artificial não é a solução de todos os problemas do processo educacional. “Mas a gente tem de saber usá-la de maneira a empoderar os agentes atuais da educação para facilitar suas tarefas. O professor quer ficar em sala de aula, ter conexão com os alunos. É lá que eles adicionam valor à educação e mudam a vida das pessoas”, comenta.
Para ajudar nesta tarefa, a Teachy desenvolveu uma plataforma que permite aos professores uma série de possibilidades, utilizando, para isso, inteligência artificial proprietária. Nesta plataforma, os professores dos ensinos fundamental e médio podem criar planos de aula, lista de exercícios, provas completas. A ferramenta ainda ajuda os professores na correção, diminuindo consideravelmente o tempo dedicado a essas tarefas fora de sala de aula.
O sistema da Teachy ainda integra vídeos, jogos e outras atividades que podem ajudar o professor no preparo de suas aulas ou serem aplicados em sala com os alunos. Todos os conteúdos disponibilizados estão de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e revisados por pedagogos de diferentes instituições.
Há mais de um ano no mercado, a Teachy já possui mais de mil professores cadastrados na plataforma que levou mais de seis meses para ser desenvolvida por um time de especialistas em tecnologia espalhados pelo mundo. “Todos brasileiros que já passaram por empresas internacionais como a Meta e outras do Vale do Silício envolvidos para criar uma tecnologia de ponta que antes era um sonho por aqui, algo que agora conseguimos fazer e apresentar para professores de todo o Brasil”, conta Siciliano, que também é aluno de MBA da Universidade de Sanford, nos Estados Unidos.
Com a sua plataforma, a Teachy busca contribuir com a melhoria do ensino no Brasil, auxiliando os professores em tarefas fundamentais para o seu sucesso em sala de aula. “Com as ferramentas, queremos tornar o trabalho deles mais produtivo para que possam garantir um melhor aprendizado para seus alunos”, diz o CEO da edtech.
Por outro lado, Siciliano também ressalta que, para isso, os professores e as escolas precisam se adaptar às ferramentas. “Há vários desafios que são trazidos com a inteligência artificial, mas também vários e vários benefícios. Importa aos agentes de educação estarem prontos para testar e utilizar a tecnologia em benefício do aluno, do aprendizado”, comenta.

IA para monitorar o rendimento dos alunos em disciplinas

“Como toda tecnologia que é desenvolvida, ela é neutra. Cabe a nós decidirmos como e para que usá-la”, comenta Carlos Silla, professor do programa de pós-graduação em informática da PUCPR que atua na área de inteligência artificial, mineração de dados e machine learning há mais de 20 anos.
O professor explica que as tecnologias de IA que despontaram agora são fruto de pesquisas desenvolvidas desde 1970. “Naquele tempo, teve quem disse que a inteligência artificial não ia chegar a lugar nenhum, mas isso não aconteceu e hoje vemos um sem número de possibilidades de usos da IA. Ferramentas como o ChatGPT estão disponíveis para qualquer pessoa”, conta.
Neste sentido, a IA traz a possibilidade de resolver problemas. “Mas também pode criar outros se não aplicada para os propósitos corretos”, ele diz.
No que tange à educação, a inteligência artificial pode contribuir de forma eficaz em diferentes aspectos do dia a dia dos professores e dos alunos, dentro e fora de sala de aula, de acordo com Silla. “Na PUCPR mesmo, estamos com algumas iniciativas que utilizam IA sendo desenvolvidas há alguns anos. Um dos exemplos é um ambiente virtual que permite ao professor acompanhar o rendimento do aluno e auxiliar diretamente no seu desenvolvimento acadêmico”, aponta.
Projeto piloto para a graduação em ciência da computação, o ambiente virtual criado pelos pesquisadores da PUCPR permite que os professores tenham acesso ao rendimento do aluno de forma a antecipar baixo desempenho no futuro. “Antes, a única forma de avaliar esse desempenho era por meio de provas e, dependendo de quando eram aplicadas e do resultado obtido, isso poderia comprometer o semestre do aluno”, diz Silla.
Por meio de uma plataforma virtual, o professor pode acompanhar cada etapa do desenvolvimento do graduando, com a IA trazendo dados que sugerem ações para este professor. “O que a gente tem é uma inteligência artificial que acompanha individualmente cada estudante e faz predições do desempenho desses estudantes semana a semana”.
“Num exemplo, se o aluno perdeu uma aula, o professor pode saber que uma informação importante foi perdida e sugerir material de apoio ou mentorias para que ele tenha embasamento para as próximas aulas. Em outro aspecto, se o aluno está indo bem e se mostra interessado, o professor também pode sugerir materiais de estudo complementares para a disciplina”, explica.
Agora, a ideia é que o projeto seja replicado em mais cursos da PUCPR e até em outras instituições de ensino. “Mas esta é apenas uma das iniciativas que estamos desenvolvendo e que logo estarão em utilização tanto na universidade como nos colégios maristas que integram o grupo do qual a PUCPR faz parte”, revela.

Icapiedu usa a IA para identificar casos de bullying na escola

Se a inteligência artificial pode contribuir em diferentes sentidos na rotina dos professores, ela também pode ser capaz de ajudar a enfrentar problemas maiores que surgem no contexto escolar. A Icapiedu, startup curitibana, percebeu dores maiores no contexto estudantil e desenvolveu uma tecnologia para ajudar a mapear casos de bullying na escola.
“A Icapiedu nasceu com a ideia de criar esse lugar de farejar o mundo e de buscar as emoções, as sensações e os problemas que ocorrem dentro da escola. E a gente sabe que o bullying não é falado e que tem características diversas que afetam diretamente a sociedade e se impõe como uma dificuldade tanto para a escola como para os pais. É aí que atuamos”, conta Everson Motta, sócio-fundador da startup.
Para operar diretamente no mapeamento de casos de bullying, a Icapiedu desenvolveu uma tecnologia capaz de identificar sintomas que interferem no cotidiano e no desenvolvimento das crianças e jovens na escola. Para isso, criou uma plataforma que possui um avatar de realidade virtual capaz de interagir com qualquer pessoa a fim de identificar, por meio da inteligência artificial, palavras e frases-chaves que orientam a análise e o diagnóstico da saúde mental na escola.
Na jornada preventiva anti-bullying, a Icapiedu traz para o contexto escolar a formação continuada para professores e apoio pedagógico. Para isso, conta com uma equipe multidisciplinar que ajuda a atuar junto à comunidade escolar para que os casos de bullying sejam analisados e direcionados para o espaço fora da escola, o que envolve os pais ou familiares.
Amaury Dudcoschi, Gustavo Soares e Everson Motta, cofundadores da Icapiedu. Crédito: Divulgação.
Amaury Dudcoschi, Gustavo Soares e Everson Motta, cofundadores da Icapiedu. Crédito: Divulgação.
“Buscamos proporcionar a prevenção e percepção do bullying com uma solução que coloca a realidade virtual como parte de um processo que também inclui a capacitação do professor e todo o apoio a ele nessa construção que é cotidiana e que vai do quarto ano do ensino fundamental até o ensino médio”, revela Motta.
A Icapiedu conta com totens com seu avatar para a interação de crianças e jovens, mas dispõe de outras alternativas para mapeamento de casos de bullying na escola. Um jogo de cartas, por exemplo, é uma das soluções desenvolvidas pela startup. Professores são orientados quanto à aplicação do jogo com os alunos.

Criando contos de fada com a ajuda da IA

Se, por um lado, uma realidade virtual com inteligência artificial pode ajudar na identificação de um problema tão importante como o bullying, ela também pode guiar crianças a um universo mágico criado por elas próprias com o auxílio de professores e pais.
No aplicativo HistórIA, produzido pela Quinyx e distribuído no Paraná pela B2G, crianças podem escolher diferentes personagens e contextos diversos para gerar histórias próprias por meio de uma inteligência artificial capaz de conectar esses pontos. O aplicativo, disponível em sistema operacional Android, pode gerar até 30 histórias diferentes para uso em sala de aula.
 Interface do aplicativo HistórIA. Crédito: Divulgação.
Interface do aplicativo HistórIA. Crédito: Divulgação.
O HistórIA é uma ferramenta interativa e multidisciplinar para crianças da educação infantil, educação especial e ensino fundamental. A proposta é aliar a inteligência artificial a um contexto em que a criatividade e habilidades cognitivas dos alunos possam ser desenvolvidas.
“Dentro do universo da tecnologia educacional, buscamos dar autonomia para o aluno, sob a supervisão e orientação do professor, para que ele participe ativamente do processo de construção de narrativas. Com o HistórIA, procuramos aproximar a inteligência artificial desse aluno que, mais cedo ou mais tarde, terá contato com a IA para que ele desenvolva aspectos como o letramento digital”, explica Beatriz Motta Lopes, que faz parte da equipe pedagógica da Quinyx.
Além de estimular a imaginação, o aplicativo "HistórIA" promove o desenvolvimento da linguagem, leitura e escrita das crianças, que podem acompanhar a história por texto ou narração. A ferramenta conta com fácil acesso por dispositivos digitais nos ambientes escolar e doméstico.
“O aplicativo proporciona, ainda, um ambiente seguro e educativo, no qual os pequenos podem explorar mundos imaginários, aprender valores importantes e aprimorar suas habilidades de leitura de forma divertida e cativante", explica Liliane Fernanda Ferreira, sócia-diretora da B2G, distribuidora da marca Quinyx.
O HistórIA traz a perspectiva de diferentes histórias, personagens e cenários. Segundo Liliane, ele potencializa a aproximação não só do aluno, mas também do professor com a inteligência artificial e a inovação tecnológica. “Este ainda é um desafio, tornar palpável para os professores algo com o qual eles não estão habituados. O aplicativo serve de estímulo e, às vezes, é a primeira forma de contato do professor com a tecnologia”, completa Liliane.